Título: Em Davos, FMI pede mais US$500 bi para Europa
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 29/01/2012, Economia, p. 49
Lagarde diz que mais dinheiro disponível para socorro gera sentimento de confiança e reduz chances de quebradeira
DAVOS, Suíça. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, surpreendeu ontem, no Fórum Econômico Mundial, ao abrir, literalmente, sua elegante bolsa durante o debate e exortar mais uma vez os países-membros do Fundo a contribuírem com US$500 bilhões adicionais este ano, no esforço para combater a crise europeia. Isso dobraria o poder de fogo do órgão para US$1 trilhão. Seu argumento é: quanto maior o montante, maior o sentimento de confiança de que a Europa não vai quebrar, reduzindo as chances de o dinheiro ser usado:
- Se for suficientemente grande, (o dinheiro) não será usado. E o mesmo raciocínio se aplica ao muro de proteção do euro.
Em Davos, muitos concordaram ontem que o chamado muro de proteção para salvar o euro - que inclui recursos do FMI e os fundos de resgate europeus - tem que ser grande o bastante. Mas o ministro de Finanças britânico, George Osborne, que participava do mesmo debate, não titubeou: seu país só vai dar mais dinheiro ao FMI para ajudar no combate à crise europeia quando os 17 países da zona do euro arrumarem a casa e respeitarem suas próprias regras. O Reino Unido está fora do euro.
- Os dirigentes da zona do euro sabem que não vão ter outras contribuições para o FMI da parte de outros países do G-20, entre eles, o Reino Unido, a menos que vejamos a cor do dinheiro deles (dos europeus) - afirmou Osborne.
O secretário de Tesouro americano, Timothy Geithner, já havia dito anteontem, em Davos, que os EUA não contribuiriam agora. E ontem, Motohisa Furukawa, ministro de Política Nacional, Econômica e Fiscal, Ciência e Tecnologia do Japão, engrossou o coro:
- Sem ação firme da Europa, não acho que países como a China e outros vão querer dar mais dinheiro ao FMI.
Lagarde disse também que certos países estão em boa situação e poderiam estar apertando menos o cinto - ou seja, gastando mais. Ela não citou nomes, mas o recado ficou claro: o FMI une-se a vários economistas em Davos que alertam que se todos partirem para austeridade ao mesmo tempo, a crise vai se complicar. E aos que acham que estão imunes, ela alertou:
- Ninguém está imune. Não é só a crise do euro. É uma crise que pode ter efeitos colaterais e impactos no mundo.
Otimismo marca debate sobre Brasil em Davos
Já um debate dedicado ao Brasil esbanjava otimismo, até do moderador. Na ausência do ministro Fernando Pimentel, de Desenvolvimento, o secretário-executivo da pasta, Alessandro Teixeira, listava números e taxas - de crescimento a aumento do emprego -- para mostrar que o país está com a economia em ordem. O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, disse que o maior desafio do país é a infraestrutura.
Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, disse que o Brasil está preparado para assumir maior papel de liderança no mundo, mas "de cooperação, em vez de confrontação".
Ativistas feministas do grupo Femen, da Ucrânia, protestaram em Davos. Seminuas, gritavam palavras de ordem contra o Fórum em frente à sua sede. Três foram detidas pela polícia.
Acordo grego deve sair esta semana
Credores privados teriam aceitado receber 3,6% por títulos de 30 anos
ATENAS, LONDRES e BERLIM. As negociações de reestruturação da dívida grega avançaram ontem, mas um acordo só deve ser anunciado ainda esta semana, segundo comunicado do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês, que representa os credores privados). De acordo com o jornal "New York Times", os credores teriam concordado em reduzir o retorno dos novos títulos que receberão do governo grego - em vez de 4%, receberiam 3,6% em bônus de 30 anos. A Grécia, com o apoio de autoridades europeias, defende uma taxa abaixo de 3,5%.
"Houve novos progressos nas negociações", afirmou o IIF em comunicado divulgado após o encontro do diretor da instituição, Charles Dallara, com o premier grego, Lucas Papademos ontem em Atenas. O texto diz que o acordo deve ser concluído esta semana.
Segundo o jornal grego "Khatimerini", o ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, disse que se está a um passo de finalizar um acordo com os credores nesta semana. Os principais pontos serão levados por Papademos aos líderes da coalizão governista hoje, quando também continuam as discussões com os credores privados.
Um acordo com os credores privados é considerado como precondição para que o país receba um segundo pacote de resgate de Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia (CE), a chamada troika. Os três órgãos cobram corte de gastos e e reformas para liberar 30 bilhões nos próximos meses.
Alemanha quer que Grécia ceda controle. Atenas rechaça
De acordo com o jornal "Financial Times", a Alemanha quer que Grécia ceda controle de decisões sobre impostos e gastos públicos a instituições europeias em troca de uma ajuda de 130 bilhões. Um documento ao qual o "FT" teve acesso prevê a criação de uma autoridade orçamentária, com poderes para vetar decisões sobre o orçamento, caso compromissos com credores não sejam cumpridos.
A Grécia, segundo a AFP, excluiu tal possibilidade. "Existe proposta não escrita apresentada ao Eurogrupo sobre uma tutela europeia permanente do orçamento da Grécia, mas a Grécia não discute tal possibilidade. Não a aceitaremos, pois essa competência pertence à soberania nacional", disseram fontes.
Já a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse à TV Bloomberg que não está satisfeita com as reformas estruturais do país: "Não estou terrivelmente positiva sobre o que tem sido feito no país".
A troika estima em 145 bilhões os custos do segundo pacote de resgate grego, segundo a revista alemã "Der Spiegel". Este número é 15 bilhões maior que o previsto em outubro. O aumento se deve a uma piora da situação econômica grega e a diferença seria fornecida pelos credores privados e pela UE.