Título: Crise faz balança ter o pior janeiro em 39 anos
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 02/02/2012, Economia, p. 28

Compras superaram vendas externas em US$ 1,3 bilhão. Média diária importada registra alta anual de 12,3%

BRASÍLIA. A balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 1,291 bilhão em janeiro, o pior resultado para o mês desde 1973, quando o governo começou a divulgar a série histórica mensal. As exportações atingiram US$ 16,142 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 17,433 bilhões.

A média diária exportada, de US$ 733,7 milhões, aumentou 1,3% sobre janeiro de 2011, mas teve uma queda de 27% em relação a dezembro. Já a média diária importada, de US$ 792 milhões, cresceu 12,3% ante o mesmo mês do ano passado e caiu 4,8% em comparação ao mês anterior.

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, afirmou que a crise na Europa tem impacto significativo nas exportações brasileiras, principalmente de commodities. Houve redução de 25% dos embarques para a região.

- A crise internacional explica os resultados do mês de janeiro - disse a secretária.

Nem alta do IPI conteve importação de automóveis

Tatiana acredita que a balança comercial fechará o ano com superávit, como aconteceu nos anos de 2010 e 2011. Com esse objetivo, até o fim do primeiro trimestre, o governo vai pôr em prática medidas de incentivo às exportações. Entre elas estão melhoria das condições de financiamento para as empresas, simplificação de regras, participação de firmas de pequeno porte no universo exportador, inovação de produtos, promoção comercial e diversificação de mercados.

Enquanto as exportações brasileiras tiveram um desempenho pífio em janeiro deste ano, o que resultou em um déficit de US$ 1,2 bilhão, o maior para um mês de janeiro, houve crescimento das importações nas quatro categorias de uso: combustíveis e lubrificantes (54,7%), bens de consumo (15,7%), matérias-primas e intermediários (5,0%) e bens de capital (4,8%).

No segmento bens de consumo, um dos principais aumentos foi o da importação de automóveis, apesar da elevação da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre esses veículos, em dezembro. Também registraram alta as importações de vestuário, máquinas e aparelhos para uso doméstico, bebidas e tabaco, farmacêuticos, produtos alimentícios, objetos de adorno, móveis, partes e peças para bens de consumo duráveis. No setor de matérias-primas, destacaram-se acessórios e equipamentos de transportes, químicos e farmacêuticos.

A secretária considera que o câmbio é fundamental tanto para as exportações quanto para as importações e avalia que a cotação não está em um nível "de conforto para o exportador brasileiro".

Mas a balança teve a influência positiva, principalmente, das exportações de soja para a China. As vendas de minério de ferro, no entanto, caíram 31% em janeiro deste ano frente ao mesmo mês de 2011.

O comércio bilateral com os Estados Unidos também foi importante, com crescimento de 37%, graças às exportações de petróleo, aço, ferro e aviões. Isso faz parte da política do governo americano de diversificar seus parceiros.

A secretária explicou ainda que houve uma queda de 2% nas exportações para a Argentina em relação ao total exportado em 2011. Ontem, entrou em vigor a mais nova medida protecionista do governo argentino, com novas exigências que tornaram mais difícil o acesso de produtos brasileiros ao país vizinho.

Tatiana disse que, considerando o peso do comércio com a Argentina na região, o governo está aguardando o funcionamento das novas medidas, mas acompanha com preocupação o que vai acontecer.