Título: Revista diz que texto contra tucanos foi erro
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/02/2012, O País, p. 11

Publicação da Biblioteca Nacional pede desculpas por artigo que ataca Serra; PSDB reage e estuda ação na Justiça

Maria Lima, Silvia Amorim e Isabel Braga

SÃO PAULO E BRASÍLIA.

A direção da “Revista de História da Biblioteca Nacional”, patrocinada pela Petrobras, alegou ontem ter sido um “erro” a publicação do artigo “O jornalismo não morreu” em seu site, no qual faz apologia do livro “A privataria tucana” e diz que o ex-governador José Serra (PSDB) está “aparentemente morto”, como publicou ontem a coluna Panorama Político, do GLOBO. Segundo nota divulgada pela direção da revista à imprensa, “todos os textos do site e da revista são avaliados internamente pelos editores, o que não ocorreu com o acima mencionado”. Os responsáveis pela revista pediram desculpas “aos que se sentiram ofendidos”. O PSDB reagiu duramente e estuda ação contra a publicação. O artigo foi tirado do ar ontem. A “Revista de História” foi lançada em 2005 e se apresenta como uma publicação independente, editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin), presidida por Jean Louis de Lacerda Soares. A principal fonte de receita da publicação, porém, são os patrocínios da Petrobras, viabilizados por meio da Lei Rouanet. A nota afirma ainda que a revista “não defende posições político- partidárias”, e que o conteúdo do artigo é “um posicionamento pessoal do repórter”. De acordo com a nota, “a Biblioteca Nacional não tem qualquer responsabilidade pelos textos publicados, participando da revista como fornecedora de material de pesquisa e iconografia”. Mas o texto provocou grande indignação entre parlamentares tucanos e a direção do PSDB. O presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), saiu em defesa de Serra e anunciou que entrará hoje com ação judicial contra a publicação — o setor jurídico do partido ainda analisava que tipo de ação será protocolada. Ontem, Sérgio Guerra mandou carta à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, ao editorchefe da “Revista de História da Biblioteca Nacional”, Luciano Figueiredo, e ao jornalista responsável, Marcos Sá Corrêa, repudiando “as falsas acusações e insinuações” do artigo assinado pelo redator Celso de Castro Barbosa. “Para se caracterizar como uma resenha, com o mínimo de idoneidade esperável nessa publicação, o artigo não poderia deixar de mencionar o papel do autor do livro no comitê da campanha presidencial do PT em 2010, nem os processos criminais a que responde por corrupção de agentes públicos e violação do sigilo fiscal de José Serra e outras pessoas”, diz a nota do PSDB, que continua: “Tampouco poderia repetir acusações e insinuações do livro sem a menor análise da sua consistência e fundamento, que uma leitura, mesmo rápida, revela serem nulos”. — É evidente que houve um abuso absurdo. Uma revista desse tipo não tem que fazer nenhuma análise política, muito menos fazer esse tipo de agressão a ninguém. É mais um instrumento de poder usado de forma inescrupulosa por essa gente que está no poder hoje — repeliu o ex-governador tucano de São Paulo Alberto Goldman. — É o ambiente que se cria (pelo PT) que permite que servidores públicos se sintam no direito de agredir os adversários do governo. O aparelhamento do Estado e o ambiente de impunidade fazem isso — afirmou Jutahy Junior (PSDB-BA). O presidente do PSDB diz ainda, na nota, que a ofensa é agravada por envolver os nomes da presidente Dilma Rousseff, e da ministra Ana de Hollanda, que aparecem no expediente da publicação: “Lamentamos constatar que nem uma instituição como a Biblioteca Nacional está a salva desse processo degradante”. — É incompreensível que instituições como a revista da Biblioteca Nacional se prestem a divulgar textos partidários facciosos e criminosos que agridem personalidades de partidos políticos respeitáveis e democráticos. Essa manipulação escandalosa dessa publicação de imprensa marrom que não resiste a um sopro não pode continuar — declarou Sérgio Guerra. Para tucanos, artigo emitiu opiniões partidárias O ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira (SP), também atacou o que chamou de aparelhamento do Estado pelo PT. — Lamento que uma revista que sempre foi de qualidade e um conselho editorial gabaritado estejam sendo detonados também pelo aparelhamento inconcebível do PT. Estão utilizando escancaradamente um instrumento público para fazer política, fazer oposição de forma covarde. Por que o PT é o governo de plantão e pode fazer o que quiser com a Biblioteca Nacional ? É deplorável — afirmou Duarte Nogueira “Uso da máquina pelo PT não tem limites. Usar publicação oficial da Biblioteca Nacional para emitir opiniões partidárias e atacar Serra é demais”, completou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) noTwitter. Procurado, Serra não quis comentar o artigo.