Título: Dilma defende combate aos coiotes
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 02/02/2012, O País, p. 10

Presidente diz que incentivará empresários brasileiros a investir no Haiti

PORTO PRÍNCIPE.

Em sua primeira visita ao Haiti, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem o combate aos coiotes, que estimulam a migração de haitianos ao Brasil, cobrando grandes quantias pelo transporte das pessoas. Ela também prometeu ajudar o país, o mais pobre das Américas, a se desenvolver economicamente. Para tanto, Dilma afirmou que promoverá um fórum com empresários brasileiros e os incentivará a investir no país caribenho, devastado pelo terremoto de janeiro de 2010, que matou cerca de 250 mil pessoas . Ontem, antes que Dilma tocasse no assunto da migração dos haitianos, o próprio presidente Michel Martelly disse que os dois países discutem um acordo para acabar com o tráfico de pessoas: — Vamos começar a negociar um acordo migratório com o Brasil para acabar com o tráfico de compatriotas pelas fronteiras e com o espetáculo de haitianos ambulantes pelas ruas e lugares públicos. Para a presidente, é preciso divulgar as novas medidas para concessão de visto aos haitianos, como forma de alertar a população a não se deixar explorar pelos coiotes. De acordo com Dilma, o Brasil está tentando criar condições de vida melhor para os haitianos no próprio Haiti. Mas observou que o Brasil recebe a todos de braços abertos, como é praxe na nossa cultura: — Neste processo, devemos combater as redes criminosas, os chamados coiotes, que se aproveitam da vulnerabilidade dos haitianos e de suas famílias, submetendo-os a situações degradantes, além de explorá-los, cobrando taxas escorchantes. E completou: — Vamos garantir acesso ao nosso país com segurança e dignidade para os haitianos que escolheram nosso país para viver e, ao mesmo tempo, combater o tráfico de pessoas. O Brasil anunciou que irá conceder 100 vistos por mês para haitianos que queiram migrar. Mas isso não inclui os que já têm família no país. — Podemos receber até 1.200 famílias por ano — afirmou Dilma. Matelly pediu que Dilma encorajasse empresas brasileiras, como as do ramo têxtil, para que produzam no Haiti. Ele lembrou que as indústrias poderiam lucrar ao utilizar o solo haitiano para exportar para os Estados Unidos, uma vez que os produtos fabricados no país caribenho têm imposto reduzido. O presidente do Haiti disse ainda que espera ver seu país livre da atuação das tropas da ONU, lideradas pelo Brasil. À tarde, durante visita de Dilma ao batalhão brasileiro, o haitiano, falando em português, afirmou: — Agradeço a cooperação do Brasil e espero, em um futuro próximo, falar às tropas haitianas neste mesmo lugar. Desde que a força de estabilização da ONU chegou ao Haiti, em 2004, o país não tem Forças Armadas. O Brasil vai começar a retirar seus soldados a partir de março. Hoje, há 2.189 militares no país caribenho e, em março, 288 deixarão o país. No total, a ONU mantém 8.940 militares e a intenção é reduzir o efetivo para 7.340 até outubro deste ano. Em discurso à tropa brasileira, Dilma disse que a questão da segurança deve aliar-se à soberania do Haiti. — A segurança coletiva tem de se combinar com a soberania nacional e o respeito aos outros países — afirmou a presidente, que ganhou de presente um boné azul com o símbolo da ONU. Dilma encontrou-se também com o ator americano Sean Penn, que tem uma ONG com atuação no Haiti. No Brasil, o governador do Acre, Tião Viana, afirmou ontem que pouco mais de mil haitianos já deixaram o estado e migraram para outras regiões do Brasil. — O governo Dilma tem transferido apoio. Temos buscado oportunidades de trabalho digno para essas pessoas, que têm migrado para outros estados e achado oportunidades.