Título: China diz que está analisando oferecer mais ajuda à Europa
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Fonte: O Globo, 03/02/2012, Economia, p. 28

Grécia avança na negociação com credores. S&P prevê recuperação em 2012

PEQUIM, ATENAS e PARIS. O premier chinês, Wen Jiabao, disse ontem que o país está analisando a possibilidade de aumentar sua contribuição aos esforços na busca de soluções para a crise da dívida na zona do euro. Durante visita oficial da chanceler alemã, Angela Merkel, a Pequim, Wen disse que é "urgente e muito importante resolver a crise da dívida da Europa". A visita da chanceler ocorre após a reunião de cúpula dos líderes europeus, em que foi aprovado um tratado para a União Europeia (UE), à exceção de Reino Unido e República Tcheca, que impõe maior rigor fiscal aos países do bloco.

O premier chinês, maior autoridade econômica do país, repetiu promessas de assistência à Europa, maior parceiro comercial do gigante asiático. Ele mencionou que a ajuda seria feita por meio de canais formais, possivelmente com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Wen, porém, não mencionou valores. Os líderes europeus querem que a China, que possui US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais, e outros investidores globais contribuam para expandir o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) e o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE, que começará em julho com US$ 650 bilhões).

- A China avalia um maior envolvimento na busca de solução para a crise da dívida europeia - disse Wen.

Merkel é a primeira de vários líderes europeus que visitarão a China este mês, em encontros que vão girar em torno da crise econômica. Como maior destino comercial das exportações chinesas, a Europa possui uma grande relevância na saúde financeira da China.

- Se conseguiremos ou não manter a estabilidade do sistema financeiro, a expansão econômica sustentável e o estímulo à integração são questões que concernem não só à Europa, mas têm igualmente um grande impacto na China - disse Wen.

Ajuda teria contrapartida política, diz jornal chinês

Merkel conclamou os dois países a uma maior cooperação comercial, mas manifestou preocupação ante a China como concorrente, dizendo que os europeus verão seus empregos migrarem para a Ásia se não melhorarem sua competitividade.

- O euro fortaleceu a Europa - disse Merkel, mais cedo durante visita à Academia Chinesa de Ciências Sociais, uma das principais instituições acadêmicas da China. - Isto não é uma crise do euro, e sim de dívida.

Um colunista do jornal oficial "China Daily", ao comentar a visita de Merkel, sugeriu que a China buscaria, em troca da ajuda, concessões políticas da Europa, como o fim do embargo à exportação de armas para a China.

Ontem, a Grécia avançou nas negociações com credores internacionais, mas ainda precisa chegar a um acordo em questões como salários, Previdência Social e recapitalização bancária.

- Há três ou quatro pontos de atrito restantes - disse Pantelis Kapsis, porta-voz do governo. - A maior parte das negociações foi concluída.

Já a agência de classificação de riscos Standard & Poor"s (S&P) divulgou ontem um estudo segundo o qual a zona do euro sairá progressivamente da recessão no segundo semestre e terminará este ano com crescimento zero. De acordo com o estudo, a Itália verá seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) cair 1% em 2012; Espanha ficaria estagnada; França avançaria 0,5%; Alemanha, 0,6%; e Reino Unido, 0,5%.

Os rendimentos dos bônus da França caíram ontem, no primeiro leilão de títulos de longo prazo do país desde a perda da classificação "AAA", no mês passado. A Agence France Tresor (AFT) informou que vendeu 7,962 bilhões em bônus de longo prazo, no topo da meta, que variava entre 6,5 bilhões e 8 bilhões. Os investidores colocaram ofertas no valor de mais de 19 bilhões.