Título: Um forte candidato em campanha
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 05/02/2012, O Mundo, p. 42

Chávez tem muito poder e dinheiro para gastar contra seus opositores

Treze anos no poder; 2,5 milhões de seguidores no Twitter e aprovação em torno de 58% - a maior dos últimos anos, segundo analistas, por conta do câncer anunciado em junho do ano passado. "Mesmo que esta aprovação não se reverta completamente em votos (pesquisas mostram que 50% dos venezuelanos tendem a votar nele para presidente), Hugo Chávez é um candidato fortíssimo", constata o analista Luis Vicente León no site da consultoria Datanálisis. Candidato forte e em plena campanha, que deve ser intensificada a partir de domingo que vem, quando conhecerá quem irá enfrentá-lo nas urnas em outubro. O governador do estado de Miranda, Henrique Caprilles Radonsky é favorito.

- Mas, não importa quem for enfrentá-lo, cairemos todos na estrada, unidos contra Chávez. A oposição nunca teve tantas chances - atesta Maria Corina Machado, única mulher entre os cinco pré-candidatos.

A Venezuela continua um país muito polarizado, e nenhum comentarista se arrisca a prever uma vitória da oposição; muito menos uma derrota de Chávez. Apesar da violência, de milhares ainda estarem desabrigados por conta das enchentes de 2010, dos problemas institucionais, da perseguição a opositores e à mídia independente, da sensação, entre a classe média, de que os recursos bilionários do petróleo não são usados para melhorar o bem-estar da população e, principalmente, da inflação anual de 33%, Chávez ainda é o político mais popular do país. A ausência de sucessor e opositor proeminentes, os gastos em programas sociais e os intermináveis discursos do "Alô Presidente" - o primeiro após a convalescença, em janeiro, durou nove horas; contrariando os médicos que mandaram ele falar no máximo três - contribuem para sua popularidade.

- Ele tem dinheiro para gastar , carisma e reduziu o espaço democrático, concentrando poder. É difícil um opositor ir contra isso - avalia Peter Hakim.

Rafael Duarte Villa lembra que, ao contrário do que Fidel Castro fez em Cuba a partir dos anos 90, Chávez não testou sucessores porque ele simplesmente "não pensou na morte, nem na dele e nem da do chavismo". A doença pode - ou não - ter mudado isso.

- Se o estado dele é grave, ele pode estar pensando em criar um sucessor-relâmpago, ao estilo de Lula. Se ele está saudável, deve confiar na vitória, tudo é imprevisível.

O que dificilmente se vê é um quadro de instabilidade como a que ocorreu antes do golpe de 2002.

- De lá para cá, a oposição amadureceu , e o presidente vai cair de forma democrática, mesmo em condições adversas - diz Maria Corina.

Para Villa, a oposição entendeu que o "chavismo é um fenômeno maior do que Chávez" e já está muito arraigado entre os venezuelanos.

- Nenhum opositor pode virar as costas para os setores sociais hoje na Venezuela.(M.T.C)