Título: Entenda o caso
Autor: Flávio Freire,
Fonte: O Globo, 05/02/2012, O País, p. 4

Instalados há 13 anos numa área de lavoura em Ñacunday, no Paraguai, 10 mil sem-terra tentam retomar áreas que são cultivadas por brasileiros naquele país há anos. Nas últimas semanas, depois que o Exército paraguaio recebeu ordens do governo para medir e instalar marcos nas propriedades que ficam na faixa de fronteira, o clima ficou tenso. De um lado, estão os carperos, que moram em carpas (barracas) e que passaram a ameaçar invadir as terras. Do outro, fazendeiros brasileiros, que decidiram reforçar a segurança do terreno que cultivam. O foco da disputa resume-se a pouco mais de 167 mil hectares pertencentes ao empresário brasileiro Tranquilo Favero. A direção do movimento carpero alega que os brasileiros estão em áreas públicas, proibidas de serem controladas por estrangeiros. E os brasileiros, que têm toda a documentação para comprovar a titularidade. O governo de Fernando Lugo passou a ser pressionado. Sem-terra de várias partes do país decidiram se trasladar para o acampamento 12 Apóstolos. Desde o último dia 11, frente à atuação do Exército local, homens, mulheres e crianças passaram a viver por lá. Parte do movimento chamou a atenção para uma ocupação pacífica. Outra convocou uma assembleia para pedir mais tempo para negociar. Sexta-feira, um pedido de reintegração de posse de três propriedades privadas de brasileiros deve fazer com que os policiais trabalhem na desocupação da área. A ação atingirá cerca de 50 famílias, e a polícia já foi orientada a atuar com cautela. Um documento da corporação destaca que "devem ser realizadas intervenções prévias para se obter informações sobre a quantidade exata de pessoas, discriminando sexo e idade, e em forma coordenada com o Departamento de Direitos Humanos da Polícia Nacional e da Comissão de Direitos Humanos do Ministério do Interior".