Título: Grécia adia acordo com UE mais uma vez
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 08/02/2012, Economia, p. 24

Credores pressionam Atenas e dizem que país não fará falta ao euro. Sindicatos fazem greve geral por 24 horas

ATENAS E RIO Os partidos políticos da Grécia adiaram ainda mais uma vez, ontem, a tomada de uma decisão difícil, entre aceitar novas e dolorosas medidas de austeridade — e, com isso, receber o segundo pacote de resgate da União Europeia (UE) — ou recusar o aperto e mergulhar num calote e possível saída da zona do euro. Apesar dos alertas dos credores internacionais de que a região pode passar muito bem sem a Grécia, e de inúmeras prorrogações, os líderes políticos da coalizão do primeiro-ministro Lucas Papademos adiaram para hoje o que promete ser uma reunião tensa e definitiva. Enquanto manifestantes em Atenas queimavam uma bandeira da Alemanha, a chanceler Angela Merkel tentava amenizar a tensão crescente, prometendo que não vai empurrar a Grécia para fora da zona do euro. Porém, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, afirmou que o bloco pode muito bem viver sem a Grécia. Adiamento se deveu à falta de documento Uma alta fonte do partido oficial grego disse que o novo adiamento — que deverá irritar os líderes europeus, ávidos para amarrar o pacote de resgate de C 130 bilhões após meses de conversações — se deveu a um documento perdido. Trata-se da mesma razão dada quando a decisão do acordo foi adiada de segundafeira para ontem. — A razão disso é que os líderes políticos não teriam tempo para analisar todos os aspectos do pacote — disse a fonte, que pediu para não ser identificada. Os líderes da coalizão, formada por partidos conservadores, socialistas e ultraconservadores, só receberam o rascunho do acordo discutido com a UE, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — a chamada troika — uma hora antes do início da reunião ontem. — Não podemos dizer “sim” ou “não”, a não ser que tenhamos garantias das autoridades de que estas ações são constitucionais e guiarão o país para fora da crise — disse o líder do ultraconservador Laos, George Karatzaferis. — Há tempo. Como se refere ao futuro do país, encontraremos tempo. Os líderes políticos gregos hesitam em aceitar os duros termos do acordo, que certamente significará uma grande deterioração do padrão de vida de muitos cidadãos gregos. Além disso, os sindicatos do país fizeram ontem uma greve geral de 24 horas. Manifestantes cercaram o Parlamento, cantando palavras de ordem, como: “Não às condições de trabalho medievais.” Perspectiva de acordo leva Bovespa à sexta alta seguida Embalados pela perspectiva de acordo nas negociações em torno da dívida pública da Grécia, os negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registraram ontem o sexto pregão seguido de alta. O Ibovespa, índice de referência do mercado, avançou 1,06%, aos 65.917 pontos, maior nível desde 29 de abril. O dólar recuou 0,17%, para R$ 1,724, em dia de desvalorização da divisa nos mercados mais importantes e sem a atuação do Banco Central (BC). O otimismo foi apoiado nos movimentos das bolsas nos Estados Unidos, mas, por aqui, a alta acelerou no fim do pregão, em mais um dia de muitos negócios (R$ 7,964 bilhões) e com presença do investidor estrangeiro. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,26%, o S&P 500 avançou 0,2% e o Nasdaq teve alta de 0,07%. Aos 12.878 pontos, o Dow Jones fechou no maior nível desde maio de 2008, segundo a agência Bloomberg News. Na Europa, as expectativas positivas em torno de uma solução para a Grécia pegaram os pregões perto do fechamento. Subiram as bolsas de Paris (0,18%), Madri (0,13%) e Milão (0,62%), enquanto caíram Londres (0,03%) e Frankfurt (0,16%). O euro refletiu o otimismo com mais força e avançou 1%, a US$ 1,3257. Os destaques de alta no mercado nacional foram as ações preferenciais (PN, sem tovo) da Petrobras (2,98%, a R$ 25,60) e ordinárias (ON, com voto) da Redecard (10,49%, a R$ 35,40). Os papéis da estatal reagiram ao expressivo volume de negócios e à entrada de investidores estrangeiros. — Hoje (ontem) o volume foi forte de novo, então a tendência é de manutenção da entrada de recursos de estrangeiros na Bolsa. Quando esses recursos entram, a tendência é irem para as ações mais líquidas, como as da Petrobras — disse o estrategista de varejo da corretora Ágora, José Francisco Cataldo. Segundo a BM&FBovespa, até o último dia 3 o saldo entre compra e venda de estrangeiros na Bolsa ficou positivo em R$ 1,274 bilhão, elevando o acumulado do ano para R$ 8,5 bilhões. Para Bruno Musa, operador da corretora Futura, o movimento se manteve ontem: — O grande volume de negócios tem estado na mão dos estrangeiros.