Título: Impasse na negociação com PMs grevistas
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 08/02/2012, O País, p. 10

Policiais baianos não aceitam proposta e discordam de prazos para pagamento de gratificações; arcebispo media encontro

SALVADOR. O recuo do governo baiano, que aceitou negociar, e a mediação do arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, foram insuficientes para encerrar a greve na Polícia Militar baiana. Após duas rodadas de negociação, num total de17 horas de conversas na casa do arcebispo, representantes do governador Jaques Wagner (PT) e das associações de classe militares não chegaram a um entendimento. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Bahia (OAB-BA), Saulo Quadros, que participou dos encontros, disse que o acordo foi dificultado pelas divergências sobre os ganhos econômicos.

Desde o dia 31, quando a greve começou, Wagner repetia que o governo não negociaria antes da volta ao trabalho. Na segunda-feira, porém, voltou atrás e aceitou a mediação de Dom Murilo, mas vetou a participação da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares (Aspra) entre os interlocutores dos grevistas.

Governo vai punir casos de sabotagem A Aspra é presidida pelo exbombeiro Marco Prisco, apontado como líder da paralisação e da ocupação da sede da Assembleia Legislativa, que continua invadida. Ele é um dos 12 dirigentes sindicais com mandados de prisão expedidos pela Justiça baiana (dois deles já estão presos).

As entidades de classe reivindicavam o pagamento da Gratificação de Atividade Policial 4 (GAP 4) a partir de março deste ano, e a GAP 5 em março de 2013, além da não aplicação de sanções administrativas disciplinares ou criminais contra os envolvidos na paralisação.

Mas a contraproposta do governo só aceita começar a pagar parcelada a GAP 4 em 2012 e a GAP 5 até 2015. O governo afastou a hipótese de transferir os dirigentes presos para presídios federais fora do estado e concordou em anistiar os militares que cruzaram os braços, mas não abriu mão de punir os responsáveis por atos de sabotagem, nem recuou na prisão dos líderes.

— A última proposta interrompeu a negociação porque era a mesma desde o início das conversas. O que está pegando agora é a questão financeira — disse Saul Quadros.

Os secretários da Casa Civil, Rui Costa, e de Segurança, Murilo Carvalho, o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, além do procurador-geral de Justiça, Rui Moraes, se reuniram com representantes das associações dos Associação dos Cabos e Soldados da PM baiana, Associação da Força Invicta, Associações dos Cabos e Soldados de Jequié e de Itaberaba, no interior do estado. A primeira rodada de negociações, iniciada às 16h de segunda-feira, durou até a madrugada de ontem.

Em entrevista à GloboNews, mais cedo, Wagner disse que não poderia pagar a GAP 4 em março porque o benefício representaria um reajuste de 35% para os policiais sem que exista previsão orçamentária para a medida: — Colocamos na mesa de negociações uma proposta que é a GAP-4 e a GAP-5. Com muito esforço orçamentário, fiz a oferta para cumprir entre 2012 e 2015. A GAP-4 e a GAP-5 farão parte do contracheque — afirmou o governador.

O vereador petista Deyvinson Batista, dirigente da associação de policiais de Jequie, não escondia a irritação ao final da segunda rodada de conversar, no fim da tarde de ontem.

Ele acusou o governo de intransigência