Título: Trava em porta aberta
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2009, Política, p. 4

Se brincar, essa restrição da campanha na internet não vai valer para 2010 por absoluta falta de tempo hábil para votação e sanção. Sorte sua, leitor

Os políticos estão correndo contra o tempo para evitar que você, leitor, possa dizer ou ler o que quiser na internet no período eleitoral. Ainda não está assegurado que haverá liberdade de manifestação em blogs ou microblogs na temporada de eleições. E, por mais que o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) esteja na maior boa vontade e contra a censura, as excelências têm dúvidas sobre deixar esses espaços como territórios livres.

O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), dia desses, afirmou à imprensa que há o risco de haver blogueiros patrocinados por pessoas que tentam influenciar no resultado eleitoral. Ora, ora, o próprio DEM tem o seu blog, livre lépido e fagueiro na rede. Assim como o presidente Lula, a Petrobras, o PSDB e quem mais chegar. O ex-prefeito do Rio César Maia, um dos ícones do democratas, é pioneiro nesse campo. Já tem até um ¿ex-blog¿ e um Twitter que não para.

Os tucanos se preparam inclusive para colocar no ar entrevistas de vídeo com seus parlamentares, governadores e filiados. A rede está coalhada de blogs Dilma presidente, Serra presidente, Aécio presidente e por aí vai. Tem gente que elogia o PT, outros que atacam os petistas. Uns exaltam os tucanos e outros os criticam. Uns são elegantes. Outros fazem corar os mais descolados no quesito palavras de baixo calão. O mesmo se dá em redes tipo Orkut e Facebook. Como cantava Lobão (o músico e não o ministro!) nos anos 1980, ¿não dá para controlar, não dá, não dá para planejar¿¿.

O PT tem um site que ¿bomba¿ em acessos desde que Lula virou uma opção de poder, antes de assumir a Presidência da República. Ali, nos tempos em que a política se fazia na base da camiseta e do brochinho, os petistas tinham até uma banquinha montada para vender toda a parafernália de brindes. Hoje, só não tem porque foi proibido pela Justiça Eleitoral, com base numa lei aprovada pelo Congresso.

Assim como o democrata César Maia, os petistas não saem do microblog Twitter. De ministros a senadores e deputados. Ontem, por exemplo, o deputado Jilmar Tatto (PT-SP) se divertia ao se referir a Eduardo Suplicy (PT-SP) como assessorado pelo pessoal do programa Pânico na TV, numa alusão ao dia em que o senador foi à tribuna entregar o cartão vermelho ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Especialista no assunto, o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA), autor de vários projetos sobre o tema, desembarcou ontem em Brasília e hoje cedo estará no Senado para conversar com o senador Eduardo Azeredo a respeito do texto. ¿Esse debate está confuso no Senado. Não há como controlar a manifestação de pessoas físicas na rede. É inexequível. Até porque a internet é volátil, se desmancha no ar¿, diz o deputado, preocupado com as manifestações em favor das restrições em blogs, microbogs e sites de relacionamentos.

A ideia da Câmara é regular apenas os debates nos sites das empresas de comunicação para garantir a presença de todos os candidatos. Afinal, a virtude e o bom senso, diz Flávio Dino, estão no meio-termo: nem a censura nem o privilégio a este ou aquele candidato em espaços jornalísticos.

Os leitores, no entanto, podem ter uma esperança na hipótese de o grupo que deseja limitar a internet conquistar maioria ao ponto de fazer valer a sua vontade no Senado e na Câmara: para vigorar na eleição de 2010, essa reforma eleitoral mais restritiva precisa ser votada no Senado, voltar para a Câmara, e, ainda, ser sancionada pelo presidente da República e publicada no Diário Oficial da União até 3 de outubro, um ano antes da eleição. Considerando que o Congresso só trabalha de terça a quinta, são 12 dias. Se brincar, a restrição não vai valer para 2010 por absoluta falta de tempo hábil. Sorte sua, leitor.