Título: Grécia adia, de novo, acordo sobre dívida
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Fonte: O Globo, 07/02/2012, Economia, p. 27

Merkel pressiona Atenas e diz que país precisa decidir se aceitará mais medidas dolorosas

ATENAS. As negociações entre o governo da Grécia e seus credores internacionais sobre um novo acordo foram prorrogadas para hoje, revelou o ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, após uma reunião com representantes da União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) - a chamada troika -, em Atenas. A chanceler alemã, Angela Merkel, pressionou Atenas a fechar um acordo, dizendo que o país precisa decidir rapidamente se aceitará os dolorosos termos propostos pela troika para viabilizar um novo pacote de resgate. Os líderes gregos, por sua vez, responderam adiando, mais uma vez, sua decisão por um dia.

- Infelizmente, as negociações são tão difíceis que tão logo um problema é resolvido, outro surge - disse Venizelos, referindo-se às negociações que se arrastam há várias semanas.

Os gregos devem optar entre submeter-se a novos sacrifícios econômicos e aceitar novos empréstimos com juros que lhes custarão caro - e os afundarão ainda mais no poço - ou dar um calote de sua dívida soberana e abandonar a zona do euro.

Os líderes dos três partidos que formam o governo interino - os socialistas do Pasok, o partido de centro-direita Nova Democracia e o partido ultraconservador Laos - passaram a manhã de ontem em reunião com o primeiro-ministro, o tecnocrata Lukas Papademos, para decidir se, enfim, assinariam o doloroso segundo pacote financeiro, que prevê um aporte de 130 bilhões. O prazo para selar o pacto, que prevê a demissão de 15 mil funcionários públicos, venceu, teoricamente, ontem, mas segundo o porta-voz da Comissão Europeia, Amadeu Altafaj, a solução ainda pode durar alguns "poucos dias".

Atenas, que, em tese apresentará o plano amanhã, na reunião do Grupo do Euro, tem uma conta de 14,5 bilhões, que vence no dia 20 de março e, até agora, não tem dinheiro para pagá-la. No domingo, Papademos conseguiu arrancar um "acordo provisório" dos políticos, ao pôr sobre a mesa a ameaça de sua demissão.

Atenas e os bancos credores querem que o BCE assuma perdas no pacote de resgate. Esta segunda ajuda se baseia em dois pilares: a troika e os credores privados. Estes estão sendo pressionados a aceitar um perdão de metade da dívida de 206 bilhões, uma decisão que se traduz em perdas para estas instituições de cerca de 70%. Uma vez alcançado um princípio de acordo com os bancos - representados pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF) -, após três semanas de duras negociações, as conversações com a troika entraram em fase crítica desde a semana passada.

Merkel e Sarkozy propõem conta para dívida grega

Segundo uma fonte do governo, uma das propostas em discussão prevê um corte de gastos equivalentes a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), recapitalização dos bancos e ampliação da jornada de trabalho. Segundo a fonte, a troika estaria disposta a eliminar dois pagamentos adicionais extraordinários ao setor privado. Europa e o FMI também querem a redução do salário mínimo do país, de 780 para menos de 600. Os sindicatos e políticos, no entanto, alertaram que esse tipo de ajuste vai paralisar ainda mais a economia de um país há quatro anos mergulhado em recessão, com uma taxa de desemprego próxima a 20%.

Merkel e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, propuseram ontem criar uma conta separada para o pagamento da dívida grega, de modo a tranquilizar os credores, revelou ontem a Bloomberg News. A chanceler alemã disse que a injeção de ajuda em tal conta daria ao governo grego acesso garantido a fundos para financiar seus compromissos de juros. Sarkozy disse que a medida "nos permitiria garantir que estamos lidando com a dívida grega". Os dois conclamaram os líderes políticos gregos que aceitem as condições necessárias para um acordo.

* Com agências internacionais