Título: BC: mercado aposta em juros de 9,5% em abril
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 07/02/2012, Economia, p. 26

Projeção do dólar cai para R$ 1,75. Poupança teve o pior desempenho para Janeiro em 3 anos

• BRASÍLIA. Os efeitos da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada há duas semanas, ainda são sentidos nas previsões dos analistas do mercado. A clareza dos diretores do Banco Central (BC) ao afirmarem que o país terá juros básicos de um dígito ainda teve influência sobre a opinião dos economistas. Segundo a pesquisa que a autoridade monetária faz com instituições financeiras, a aposta agora é que haverá mais dois cortes seguidos de 0,5 ponto percentual na taxa básica (Selic). Se isso ocorrer, o país terá juros de 9,5% ao ano em abril.

Na semana passada, a projeção era que esse patamar siria atingido somente em maio e isso já era uma reviravolta nas estimativas. No entanto, há quem espere que o BC vá além.

- No mercado futuro, as apostas estão concentradas na redução da Selic para uma taxa de dígito, para um patamar de 9,5%, que era o nosso cenário referencial desde o fim do terceiro trimestre do ano passado - afirmou o economista da Corretora

Prosper, Eduardo Velho.

A afirmação dos integrantes do Copom que o juro básico ficaria menor que 10% ao ano mexeu com várias expectativas: uma delas foi o câmbio.

A projeção para a cotação do dólar caiu abruptamente, de R$ 1,80 para R$ 1,75, ao fim deste ano. Com excesso de liquidez promovida principalmente na zona do euro - muito desse dinheiro viria para o Brasil para ganhar com um grande diferencial de taxa de juros. Mas, com a queda da Selic, esse processo diminuiria até o fim do ano.

- Visto que o Copom tem o propósito de conduzir a Selic a um dígito e com o real apreciado poderá fazê-lo utilizando o preço do dólar como coadjuvante no controle das pressões inflacionárias - disse o economista da NGO Corretora, Sidney Nehme.

Segundo o relatório yocus do BC, a previsão para o índice de preços ao Consumidor Amplo (lPCA), usado pelo governo no sistema de metas para a inflação, subiu de 5,28% para 5,29% em 2012. A estimativa para o crescimento melhorou: passou de 3,27% para 3,3%. Na contramão, a expectativa para a indústria voltou a cair: de 3% para 2,79%.

Já a caderneta de poupança teve o pior desempenho para janeiro dos últimos três anos. No mês passado, os saques superaram os depósitos em R$ 2,8 milhões. Segundo o SC, foi o primeiro resultado negativo desde 2009, quando o déficit ficou em R$ 486 milhões.

- Janeiro é um período de muita concentração de dívida: tem uniforme, matrícula e materiais escolar das crianças, tem de pagar os presentes de Natal que vieram na fatura do cartão de crédito, tem despesa com viagens, tem muito gasto típico de fim de ano - disse o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

A partir de março, depósitos devem aumentar

O economista lembrou que há outros fatores que justificam o mau comportamento da aplicação no mês passado, como crise mundial, menor crescimento do emprego, além da alta da inadimplência, do endividamento e do comprometimento da renda do brasileiro. Com isso, não sobra para poupar. A inflação também contribuiu para "roubar" recursos dos trabalhadores.

Em 2011, a aplicação teve o pior desempenho dos últimos cinco anos. A expectativa do especialista é que a partir de março, quando as dívidas de início de ano acabarem, a poupança volte a experimentar uma enxurrada de depósitos. Isso se justificaria porque, com a provável queda da Selic, a caderneta voltará a ficar mais atraente que alguns fundos. Isso beneficia a poupança, mas cria um problema para o governo, que se financia com aplicações dos investidores em títulos da dívida pública.

Essa discussão está sobre a mesa. A equipe econômica quer achar uma saída para evitar uma forte migração para a aplicação e desestimular a indústria de fundos. Analistas apostam que nada será feito por enquanto, por se tratar de um assunto delicado e impopular em ano de eleições. Outro argumento contrário é a possibilidade de o SC voltar a subir os juros ano que vem.