Título: Emergentes entre os vencedores
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 07/02/2012, Economia, p. 25

No Brasil, operadores aeroportuários dobrarão total de passageiros atendidos

Henrique Gomes Batista, Paulo Justus e Ronaldo D"Ercole

Marcos Alves

SÃO PAULO. Os grupos vencedores do leilão de ontem são bem diferentes do que o mercado e o governo previam antes da abertura das propostas. Nada das grandes empreiteiras ou concessionárias de rodovias. Também não foram os renomados operadores dos aeroportos mais movimentados do mundo. Pelo contrário. Para os operadores aeroportuários vitoriosos, assumir a gestão de ativos como Guarulhos implicará dobrar o atual volume de passageiros sob sua administração.

É o caso da operadora estatal sul-africana ACSA, que transportou 30 milhões de passageiros em seus nove aeroportos no continente africano e vai enfrentar o desafio de incorporar mais 30 milhões que passam anualmente por Guarulhos. Segundo o consórcio, esse movimento pode chegar a 55 milhões em 2017. O aeroporto vai ser administrado também pela Invepar, responsável pela gestão do metrô do Rio - com recorrentes problemas operacionais - , da linha Amarela e da Rio-Teresópolis.

Já a operadora francesa Egis Airport Operation - que trabalha em ex-colônias europeias na África, como Costa do Marfim, Congo e Gabão, e na Polinésia - registrará um aumento de 57% no volume anual de passageiros: os 7,5 milhões de Viracopos se unirão aos 13 milhões de seus 11 terminais no exterior. A seu lado, está a Triunfo, forte em rodovias e petróleo, e única S.A. entre as vencedoras.

A maior operadora entre as vencedoras é a argentina Corporación América, que ficará responsável por Brasília pelos próximos 25 anos. A empresa está em Argentina, Uruguai, Equador e Armênia, além de operar um terminal na Itália (Sicília), transportando 47 milhões de passageiros em 2011. A esses se somarão 15,4 milhões que passam pelo aeroporto da capital.

O operador argentino, que causou polêmica em seu país de origem, pedindo revisão de contratos, destaca-se por ter maior participação na composição societária do consórcio, com 50%, enquanto nos demais consórcios vencedores a participação da operadora ficou no mínimo de 10% exigido pelo edital.

Perguntado sobre o fato de operadoras vencedoras só atuarem em aeroportos de países emergentes, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, disse que acredita nessas empresas que operam em vários lugares e transportam milhões de passageiros por ano:

- A gente não pode ter preconceito da origem do capital. É uma pena que outros não tenham tido tanta ambição, no bom sentido, de reconhecer a capacidade e oportunidade que é desenvolver negócios no país.

José Márcio Monsão Mollo, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), afirmou que confia nos consórcios vencedores, embora reconheça que alguns operadores são pequenos - até menores que os aeroportos brasileiros que passarão a administrar.

Analistas do setor, que preferiram não se identificar, acreditam que a união de grupos pequenos com uma estrutura que ainda terá uma forte presença da Infraero (49%) pode dificultar ganhos efetivos de qualidade.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, Marcelo Guaranys, disse que a participação da Infraero como sócia servirá para transmitir o know-how aos estrangeiros.

* Enviado especial