Título: Uma companheira para cuidar das mulheres
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 07/02/2012, O País, p. 12

Dilma escolhe ex-colega de cela no período da ditadura para substituir Iriny Lopes

Tatiana Farah, Catarina Alencastro, André de Souza e Gerson Camarotti

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A presidente Dilma Rousseff, preterindo a sugestão feita pelo PT, escolheu a socióloga mineira Eleonora Menicucci de Oliveira, sua ex-companheira de prisão na época da ditadura militar, como nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres. Ele vai substituir a petista capixaba Iriny Lopes, que deixa o cargo para ser candidata à prefeitura de Vitória. Ao convidar Eleonora, Dilma fez uma opção por um nome representativo e com relações pessoais com ela.

A tendência petista Articulação de Esquerda queria manter na Esplanada o espaço que tinha com Iriny e chegou a indicar a deputada estadual Inês Pandeló, do PT do Rio. A posse de Eleonora está marcada para a sexta-feira.

Dirigente estudantil, presa política, feminista, pesquisadora e socióloga. Eleonora Menicucci foi companheira da presidente Dilma na Torre das Donzelas, nome dado à ala das militantes de esquerda no Presídio Tiradentes, nos anos 70.

Amigas desde o movimento estudantil, nos anos 60 em Belo Horizonte, Dilma e Eleonora foram presas e torturadas nos porões do DOI-Codi, em São Paulo. Se reencontram numa cela, onde Eleonora ficou presa de 1971 a 1973.

— Naquela época, era prioritariamente a luta contra a ditadura. O feminismo veio depois, já na prisão — conta a nova ministra ao GLOBO.

Eleonora, hoje com 67 anos, foi dirigente da UNE e do Partido Operário Comunista (POC). Depois da ditadura, passou a dedicar sua carreira a pesquisas e estudos sobre a vida das mulheres, empunhando bandeiras como a descriminalização do aborto e o combate à violência. Sobre a amizade com Dilma, a ministra deixa claro: — Minha nomeação tem a ver com a minha trajetória na área, com a minha competência como pesquisadora e professora.

Estou me sentindo muito honrada .

Eleonora é pró-reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde é livre docente do Departamento de Medicina Preventiva. Formou-se em Ciências Sociais pela UFMG, e fez pós-doutorado em Saúde, Gênero e Trabalho na Universidade de Milão.

Ela coordena o diretório "Saúde da Mulher e Relações de Gênero" do CNPq.

A troca, a décima no primeiro escalão do governo Dilma, foi formalizada por meio de nota. A presidente Dilma agradeceu o trabalho de Iriny e a desejou boa sorte.

A presidente espera resolver também esta semana a nomeação do novo titular do Ministério do Trabalho. A pasta está sob o comando do ministro interino Paulo Roberto Pinto desde a saída de Carlos Lupi.

Ela quer adotar na pasta do Trabalho, um feudo do PDT, o mesmo critério adotado pelo PP para escolha do novo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro: o nome terá que ter a capacidade política de unir e pacificar as bancadas do partido no Congresso.

Dilma aguarda uma posição unificada do PDT, mas o nome de sua preferência no partido é o do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS). No entanto, Carlos Lupi ainda insiste em dois nomes da sua confiança: o deputado André Figueiredo (PDT-CE), e o secretário-geral do PDT, Manuel Dias.

Com a solução para o Trabalho, só ficará faltando nesta fase da reforma ministerial a substituição da ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Igualdade Racial.