Título: Ribeiro diz que gestão será prioridade
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 07/02/2012, O País, p. 12

Ao assumir, novo ministro das Cidades afirma que está pronto para enfrentar "fase de espancamento" de Dilma

Catarina Alencastro, André de Souza e Maria Lima

l A presidente Dilma Rousseff fez questão de deixar clara a importância estratégica que o Ministério das Cidades tem para o governo ao empossar, ontem, o novo titular da pasta, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP). Ele assumiu o cargo no lugar de Mário Negromonte (PP), que perdeu o apoio de seu partido e teve ações do ministério sob suspeita de irregularidades.

Aguinaldo, que também assume com questionamentos sobre os negócios da família, usou denúncias de desvio de recursos dos ministérios como mote do discurso na cerimônia de transmissão de cargos, já no ministério. Depois de ser empossado no Palácio do Planalto, Aguinaldo Ribeiro, ao receber o cargo do companheiro de partido Mário Negromonte, chamou a atenção para as somas astronômicas que passará a gerir — R$175 bilhões no setor de habitação, e R$40 bilhões no de Saneamento — e reclamou das dificuldades impostas por órgãos de fiscalização.

— A estrutura de fiscalização do recurso público no Brasil se transformou num instrumento de medo para o gestor. Temos que rever esse modus operandi sem deixar de perceber firmemente a participação dos órgãos de contas. Essas dificuldades, nós vamos ter que vencer — discursou Aguinaldo Ribeiro, explicando, depois, em entrevista, que se referia à burocracia e à demora para avançar nos projetos.

No Planalto, a presidente Dilma, em seu discurso, ressaltou o papel do ministério : — O Ministério das Cidades é uma pasta estratégica para o governo, porque estamos decididos a investir pesadamente em infraestrutura e em melhoria da distribuição de renda e da qualidade de vida em nosso país. É um ministério fundamental para um país que cresce e se desenvolve, que enfrenta uma população crescentemente urbana, um país que enfrenta carências históricas de investimento nessas áreas — afirmou Dilma, dirigindo- se ao ministro. — A atuação do Ministério das Cidades será decisiva para que o investimento público seja, junto com o privado, um dos fatores decisivos deste ano, e nos próximos.

No discurso no Planalto, o novo ministro disse estar preparado para enfrentar a fase de "espancamento" — quando os projetos do ministério são avaliados pela presidente, e rejeitados, segundo definição do ministro Aloizio Mercadante (Educação).

Já adotou na sua fala o tom que a presidente gosta, conciliando política e gestão.

— Gestão será a prioridade do seu novo ministro, será nosso foco, nossa diretriz, minha maior missão no Ministério das Cidades.

Isso, ao meu ver, é que significa modernidade na forma de fazer política. É romper o falso dilema entre política e gestão. A boa gestão na vida pública tem que ser política, no sentido mais amplo — afirmou Ribeiro.

Ao final da solenidade, tanto o novo ministro quanto seu antecessor tiveram que dar explicações à imprensa sobre acusações de irregularidades. Ribeiro desqualificou denúncias de que ele omitiu quatro empresas na declaração à Justiça Eleitoral, inclusive emissoras de rádio: — Não adianta fazer factoide com o que não existe. Todas as empresas estão declaradas. Estão na declaração de renda. Isso está explicado. Não adianta a gente criar factoides.

Negromonte, que foi acusado de ter dado aval a documento adulterado para recomendar projeto de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) no lugar do projeto original de linha rápida de ônibus (BRT) em Cuiabá — mudança que aumentou o custo em R$ 700 milhões —, voltou a dizer que sai do ministério sem ter cometido irregularidades: — Não há nenhuma irregularidade à frente do ministério. Saio como entrei: sem nenhum processo e de cabeça erguida — disse Negromonte.

Na transmissão de cargo, Ribeiro foi prestigiado por tucanos e peemedebistas. Na primeira fila estava o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), seu conterrâneo de Campina Grande