Título: Leilão do Galeão merece ser antecipado
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Fonte: O Globo, 07/02/2012, Opinião, p. 6

Os horizontes de investimento na economia brasileira vão se alongando à medida que a relativa estabilidade monetária se consolida.

Para garantir essa estabilidade, as finanças públicas precisam estar em ordem, assim como as contas externas do país.

Com bons fundamentos, a economia brasileira tende a conviver com taxas de juros reais mais baixas, o que leva os investidores de longo prazo a buscarem opções, em vez de se acomodarem somente nas aplicações em títulos de renda fixa. A infraestrutura é, sem dúvida, uma delas, e, no caso específico do setor aeroportuário, as oportunidades se multiplicam, em face do potencial de crescimento do transporte aéreo e das oportunidades desperdiçadas pela gestão deficiente crônica do modelo estatal em vigor.

Em função desse quadro, o leilão realizado ontem na Bovespa obteve pleno êxito, com os lances vencedores apresentando um ágio médio de quase 400%. O valor que os novos concessionários terão de desembolsar, no decorrer de seus contratos (com prazos de vinte a trinta anos) para administração dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília, chegará a R$ 24,5 bilhões. O mínimo exigido pelo governo era de R$ 5,5 bilhões.

Tais recursos vão compor um fundo que custeará investimentos nos 63 aeroportos previstos para permanecerem sob controle da Infraero. A empresa estatal, por sua vez, ficará com 49% dos consórcios privados que assumirão os aeroportos licitados.

Na prática, isso significa que toda a infraestrutura aeroportuária do país passa efetivamente a se autofinanciar, com grande volume de investimento (pelo menos R$ 16 bilhões nos três já licitados), possibilitando ao Tesouro se concentrar em outras prioridades para as quais não existem muitas alternativas, a exemplo dos programas sociais.

Os novos concessionários devem assumir em maio a administração dos aeroportos licitados.

Durante seis meses vão compartilhar a gestão com a Infraero, e a partir desse prazo passam a ter responsabilidade completa pelo gerenciamento dos aeroportos.

Há tanto por fazer que não se deve esperar uma mudança de água para o vinho na qualidade dos aeroportos brasileiros. Mesmo assim, é bem provável que os avanços comecem a ser percebidos em pouco tempo, o que poderá estimular o governo a ampliar a rede de aeroportos que ficará sob concessão privada.

Com o sucesso do leilão de ontem, não há mais argumento que justifique protelação na licitação dos aeroportos do Galeão e de Confins. Ao contrário, deveria ser antecipado.

É preciso correr contra o tempo. O Galeão precisa de melhoras substanciais com urgência porque o Rio abrigará importantes eventos internacionais, o que já vem atraindo para a cidade um fluxo crescente de visitantes, brasileiros e estrangeiros.

Mais voos estão sendo programados para o Galeão, e todos sabem da má impressão que o aeroporto causa aos turistas que por ali passam.

Embora tardia, a concessão dos aeroportos significa a quebra de mais um tabu no Brasil, e certamente ajudará o estado a cumprir melhor as funções para as quais é designado pela sociedade.