Título: Irã festeja revolução com ameaças
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Fonte: O Globo, 04/02/2012, O Mundo, p. 34

Aiatolá dispara contra EUA e Israel; Washington já contaria com ataque israelense

AFP

TEERÃ. O Irã comemorou ontem o 33 aniversário da Revolução Islâmica com novas bravatas contra os inimigos de sempre: os Estados Unidos e Israel. Falando pela primeira vez em público sobre a nova rodada de sanções impostas por Washington e pela União Europeia, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, disse que o país não abandonará seu programa nuclear e dispõe de "ferramentas próprias" para retaliar qualquer ameaça.

Os comentários de Khamenei foram feitos horas depois de o jornal "Washington Post" revelar que o secretário da Defesa dos EUA, Leon Pannetta, acredita que Israel atacará o Irã entre abril e junho deste ano, antes que o país persa supere um limiar que os israelenses consideram irreversível na suposta busca pela bomba nuclear. Pannetta não desmentiu a reportagem, limitando-se a dizer que não iria comentá-la.

Nos últimos dias, autoridades israelenses têm reforçado a retórica belicosa contra Teerã. O ministro da Defesa, Ehud Barak, disse que há um consenso entre vários países de que, caso a diplomacia e as sanções não parem o Irã, um ataque militar será a única opção. O vice-premier Moshe Yalon disse que o Irã precisa ser parado "de um jeito ou de outro" e refutou a hipótese de que o fato de haver usinas nucleares subterrâneas possa tornar inócuo qualquer ataque.

- Qualquer instalação protegida por humanos pode ser invadida por humanos. É possível atacar qualquer instalação iraniana - afirmou.

Israel considera o regime iraniano uma ameaça à sua existência. E declarações feitas ontem pelo aiatolá Khamenei dão razão ao Estado judaico.

- Não hesito em dizer que apoiaremos e ajudaremos qualquer nação ou grupo que queira lutar contra o regime sionista, que é um câncer que precisa ser extirpado - disse o líder supremo, citando os exemplos da milícia libanesa Hezbollah e do grupo palestino Hamas.

Sobre uma eventual guerra com os EUA, Khamenei afirmou que ela seria "dez vezes pior para os interesses dos EUA do que para o Irã".

- Os americanos vivem dizendo que todas as opções estão sobre a mesa, até um ataque militar. Isso mostra que eles não têm argumentos reais para enfrentar nossos argumentos - afirmou.

O Irã insiste que seu programa nuclear só tem fins energéticos e não busca a obtenção da bomba. O país, porém, vem criando dificuldades para inspetores internacionais que tentam acessar suas instalações atômicas.

Diplomatas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, relataram que seus reiterados pedidos para visitar o complexo de Parshin foram ignorados por Teerã, e não há perspectiva de que eles sejam atendidos. Um informe do fim do ano passado da agência aponta o fato de o complexo ter instalações para o teste de explosivos como "um forte indício do possível desenvolvimento de armas nucleares" no local.

Contrariando o regime iraniano, que qualificara de "muito boas" as conversas na recente inspeção da AIEA no país, um diplomata que falou à Reuters em condição de anonimato chamou a visita de inútil.

- Não conseguimos nada com essa visita, nem que o Irã respondesse a nossas perguntas sobre questões militares. Nunca fui otimista, mas isso só aumentou meu pessimismo - afirmou o diplomata.

Apesar do aparente fracasso da missão, uma nova rodada de inspeções da AIEA no Irã está marcada para os dias 21 e 22.

Além do discurso de Khamenei, o Irã festejou o aniversário da revolução com o lançamento de mais um satélite, o terceiro desde 2009. O programa espacial de Teerã causa preocupação no Ocidente, já que sua tecnologia poderia ser revertida para o lançamento de mísseis. O presidente Mahmoud Ahmadinejad, porém, deu outro tom à entrada em órbita do satélite, que terá a missão de monitorar condições meteorológicas.

- Espero que esse lançamento funcione como sinal de uma maior amizade entre todos os seres humanos - disse.