Título: BC atua para segurar dólar, que cai 0,29%
Autor: Neder, Vinicius
Fonte: O Globo, 04/02/2012, Economia, p. 27

Leilão de compra só impediu queda maior, em dia de otimismo nos mercados. Valor de R$ 1,717 é o menor desde outubro

TURBULÊNCIA GLOBAL

A enxurrada de dólares que continua entrando no Brasil com o alívio dos mercados globais neste início de ano fez o Banco Central (BC) atuar ontem para conter a queda do câmbio. O máximo que a autoridade monetária conseguiu com um leilão de compra, porém, foi conter a velocidade da queda: o dólar comercial recuou 0,29%, a R$ 1,717, menor valor desde 31 de outubro do ano passado.

A tarefa do BC foi dificultada pelo cenário externo, com mais um dia de otimismo nos mercados globais derrubando fortemente o dólar perante as moedas dos principais países emergentes - África do Sul e México foram destaque.

Todas as semanas do ano fecharam com queda

Todas as cinco semanas do ano terminaram com o dólar em queda, levando a uma baixa acumulada em 2012 de 8,13%, a segunda maior entre as principais moedas do mundo - atrás apenas da desvalorização do dólar no México.

Ontem, a ação do BC impediu que o movimento do câmbio por aqui fosse tão forte quanto no México e na África do Sul, cujas moedas foram as que mais se valorizaram entre as principais, segundo a agência Bloomberg News.

Segundo operadores do mercado, a atuação do BC já era esperada, por causa do fluxo de recursos, fruto principalmente de captações externas de empresas brasileiras e de investimentos estrangeiros na Bolsa. Somente no dia 1, os estrangeiros colocaram R$ 304 milhões em ações. Somadas aos R$ 7,2 bilhões de janeiro, as entradas no ano chegam a R$ 7,5 bilhões.

Além disso, em operações realizadas até quinta-feira, companhias brasileiras já levantaram US$ 12,3 bilhões no exterior, segundo cálculos da Bloomberg News. A maior operação, da Petrobras, envolveu US$ 7 bilhões e esse montante ainda não entrou no país.

- O fato de o leilão ter sido a termo mostra que o BC está agindo sobre a expectativa do mercado em relação a mais entradas, não apenas contra o fluxo em si - analisa Alfredo Barbutti, economista da BGC/Liquidez.

O leilão de compra a termo é semelhante à operação no mercado à vista. A diferença está na data de liquidação: as operações de câmbio à vista são efetivadas em dois dias úteis, enquanto na compra a termo é definida uma data futura.

Na operação de ontem, a data de liquidação é 20 de março. A taxa fixada no leilão foi de R$ 1,7383, segundo informou o BC - o total comprado não é divulgado, mas operadores do mercado estimaram que o volume de negócios não foi muito grande.

Essa foi a primeira intervenção do BC no mercado de câmbio neste ano. A autoridade monetária não fazia leilões de compra a termo desde 26 de julho de 2011, quando, antes da crise das dívidas públicas na Europa e nos Estados Unidos se agravar, as cotações giravam nos menores valores em 12 anos, na casa de R$ 1,55.

- O objetivo do BC foi absorver os US$ 7 bilhões da Petrobras que estão para entrar - diz o gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Ítalo Abucater dos Santos.

A curto prazo, a tendência de queda continua, e o Ministério da Fazenda já demonstrou estar descontente com a rapidez do recuo. Por isso, novas ações do BC são esperadas. Especialistas não são unânimes sobre a tendência de longo prazo. Para Santos, da Icap Brasil, o ritmo de entrada de dólares pode não se manter.

Já para o diretor de câmbio da corretora Renova, Carlos Alberto Abdalla, a tendência é o país seguir atraindo recursos. A notícia de que o Brasil chegou à posição de sexta maior economia do mundo, na virada do ano, é um chamariz para investidores.

- No momento atual, o Brasil é o lugar ideal para investir - disse Abdalla.