Título: Eliana Calmon diz que não há caça às bruxas
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 04/02/2012, O País, p. 10

Corregedora contou ter se emocionado a cada voto e negou ação midiática no trabalho do CNJ

BRASÍLIA. Num tom de conciliação e prudente nas palavras, a corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Eliana Calmon, emocionou- se e chorou ontem ao comentar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, na véspera, devolveu ao órgão plenos poderes.

A ministra afirmou que não haverá "caça às bruxas" nas investigações do conselho, onde tramitam 545 processos contra magistrados.

No centro da polêmica que envolve o Poder Judiciário há três meses por causa do tom exaltado em críticas contra juízes, Eliana Calmon afirmou que sua relação com o presidente do STF e também do CNJ, Cezar Peluso, é a melhor possível. A corregedora chegou a dizer que, após o final do julgamento da ação de inconstitucionalidade, todos vão "dar as mãos" e promover a Justiça que o Brasil precisa.

— Nunca existiu devassa, caça às bruxas. O que existe são problemas pontuais, que serão, como sempre, examinados com a Legislação — disse Eliana Calmon.

Sorrisos na hora do lanche Sobre o alegado bom relacionamento com o ministro, a corregedora atribuiu ao fato de ambos serem magistrados e técnicos.

— Estamos acostumados a esse embate. Podem até achar que é um mundo meio esquisito, com muitos embates e discussões, e até ofensas mais apimentadas. Mas na hora do lanche, estamos sorrindo e conversando.

Precavida, a ministra afirmou que é preciso aguardar a publicação do acórdão com a decisão de anteontem para celebrar o resultado. Como o julgamento da ação movida pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) continua na próxima quartafeira, com apreciação de outros quatro pontos, Eliana Calmon lembrou que os ministros podem, se quiserem, reconsiderar os votos dados durante a semana.

— A decisão que temos ainda está sujeita a alterações.

Enquanto não for publicado o acórdão, há possibilidade de entendimento de um de seus ministros. Acho difícil, mas tecnicamente é possível.

Por enquanto, tudo continua como antes — ponderou a ministra.

Calmon acredita que a decisão de anteontem do STF pode repercutir e influenciar no julgamento de outra ação, que impede a investigação patrimonial de magistrados, com base em dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

— Mas não significa que será líquido e certo — disse.

A ministra rebateu críticas que tem recebido no sentido de que o CNJ atua julgando apenas processos "midiáticos".

— Não é verdade. Existem hoje 56 processos parados no CNJ por força de liminares.

Os senhores sabem de algum nome desses 56? Não sabem! Porque, nessa primeira fase, seguem sigilosos.

Como não se tem base para dizer que são verdeiros os fatos apurados, não queremos expor quem está sendo investigado.

Lágrimas e descanso após três meses O choro da corregedora veio no último instante de sua entrevista.

Perguntada se havia se emocionado com o voto da ministra Rosa Weber, do STF e que votou a favor do CNJ, Eliana disse que isso aconteceu em cada voto, contra e a favor.

— Quando terminou, me perguntaram: vai fazer o quê? Vou dormir. Porque não durmo há três meses — afirmou Eliana Calmon, juntando as mãos à boca e com os olhos lacrimejados.