Título: Petrobras, um lucro pela metade
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 10/02/2012, Economia, p. 27
Ganho da empresa despenca 52% no 4, trimestre, o pior resultado desde 2007
Bruno Rosa e Ramona Ordoñez
APetrobras registrou queda de 52,3% em seu lucro líquido no quarto trimestre de 2011 em relação ao mesmo período do ano anterior: o ganho desabou de R$10,602 bilhões para R$ 5,049 bilhões. O resultado pegou analistas de surpresa, que projetavam lucro de R$ 9,5 bilhões entre outubro e dezembro. Foi o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2007, segundo dados da Economatica, quando ganhou R$ 4,1 bilhões. As perdas foram causadas por aumento nas despesas operacionais, como a alta dos custos para extrair petróleo e na recuperação de ativos, além de gastos com pessoal. Com isso, a empresa fechou o ano com recuo de 5% no lucro, em R$ 33,313 bilhões. O câmbio também afetou a receita financeira. Com a desvalorização do dólar frente ao real, houve uma despesa cambial de R$ 3,9 bilhões no ano passado. No último ano sob o comando de José Sergio Gabrielli, a Petrobras ressaltou ainda que houve alta de 23% no custo dos produtos vendidos no Brasil em 2011, devido ao aumento de 6% na demanda do mercado interno e aos maiores volumes de importação. No ano passado, a importação de barris de petróleo e derivados aumentou 22%. E, como os preços no exterior são maiores que os praticados no Brasil, a Petrobras acaba tendo perdas. Segundo Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a Petrobras deixou de arrecadar R$ 7,9 bilhões em 2011 com a diferença dos preços do diesel e da gasolina no mercado internacional e doméstico. Isso aconteceu porque a defasagem média no ano de 2011 do diesel foi de 16% e da gasolina, de 15%. — O preço de venda do diesel nas refinarias da Petrobras ficou, com base no critério da paridade de importação, 23% abaixo dos preços do combustível vendido no Golfo do México. No fim de 2011, o preço de venda nacional da gasolina ficou 15% abaixo do preço no Golfo — ressaltou Pires. O resultado, frisou a Petrobras, só não foi pior porque houve redução das perdas com processos judiciais e administrativos em relação ao ano anterior. A estatal também obteve ganhos judiciais que permitiram a recuperação de tributos, além da indenização da construção da P-48. — O resultado veio muito ruim, principalmente com o gasto elevado para a exploração. Ao verificar o relatório, é possível verificar que a empresa perfurou muitos poços, mas muitos deles estavam secos. E o maior impacto veio do último trimestre do ano. O lucro líquido caiu fortemente com a piora no resultado operacional — disse um analista que optou por não se identificar. Entre outubro e dezembro, a empresa teve custos de R$ 717 milhões com a exploração em poços secos. Além disso, gastou R$ 657 milhões na recuperação de ativos. No ano, destinou R$ 845 milhões em gasto com pessoal, como acordos coletivos e despesas com formação profissional. Com o aumento das vendas no mercado interno, a Petrobras fechou o ano com receita de R$ 244,176 bilhões, uma alta de 15% em relação ao ano anterior. Destaque para a alta de 24% nas vendas de gasolina e avanço de 9% no diesel. — Um dos destaques é o volume maior de vendas da gasolina, já que o etanol (álcool) ainda não está valendo a pena. Como a gasolina tem preço maior, alavanca os negócios. E há um reflexo do aumento dos preços no mercado interno para gasolina e diesel, que começou a vigorar em novembro. Porém, o resultado será mais forte no início deste ano, já que os estoques nas refinarias estavam elevados no ano passado — disse Lucas Brendler, analista de investimento Geração Futuro. Também contribuiu para elevar a receita o aumento de 2% na produção de petróleo e gás natural no ano passado. Na área de abastecimento, com o avanço das importações, o quarto trimestre terminou com prejuízo de R$ 4,412 bilhões, ante lucro de R$ 1,427 bilhão no mesmo período de 2010. No ano, fechou no vermelho em R$ 9,955 bilhões. Já na área de gás, houve alta de 142% no lucro, para R$ 3,109 bilhões. O avanço foi impulsionado pelo maior volume para as indústrias e a alta nas receitas com a entrada em operação de novas usinas termelétricas. — O crescimento da demanda e dos preços das commodities agrícolas impulsionou a demanda por diesel, por um lado, e elevou a margem nas vendas dos fertilizantes, por outro — disse um analista do setor. Em 2011, a estatal investiu R$ 73 bilhões, valor 5% menor em relação a 2010 e menor que a meta anunciada em meados de 2011, de R$ 84,7 bilhões. Para 2012, a estatal pretende investir R$ 87,5 bilhões.