Título: Na Bahia, fim da ocupação
Autor: Adailton, Franco
Fonte: O Globo, 10/02/2012, O País, p. 3

PMs grevistas deixam a Assembleia, e líderes se rendem, mas mantêm a paralisação

Temendo a invasão das forças federais, após o endurecimento nas negociações, policiais militares em greve desocuparam ontem o prédio da Assembleia Legislativa da Bahia, que ocupavam desde o último dia 31, quando iniciaram o movimento. Apesar da desocupação, os PMs decidiram à noite, em assembleia no Sindicato dos Bancários, manter a paralisação. Dirigente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), o ex- PM Marco Prisco negociou sua rendição à polícia, na madrugada de ontem. Sob a condição de deixar a Assembleia Legislativa pelos fundos, com o ex-sargento Antônio Paulo Angelini, únicos no prédio com prisão preventiva expedida pela Justiça, eles foram presos pelas polícias Federal e do Exército por volta das 6h30m. A decisão de abandonar a resistência grevista ocorreu poucas horas após a Secretaria da Segurança Pública (SSP) revelar à imprensa o conteúdo de escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, entre o ex-PM e o presidente da Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspojer), David Salomão, domingo passado, quando os dois tramavam atacar veículos e interditar o tráfego na BR-116, que liga a Bahia ao Rio de Janeiro.

Quatro líderes grevistas presos

l Escoltados em carros do Grupo de Operações Táticas da Polícia Federal (GOT), acompanhados por um helicóptero do Exército, Prisco e Angelini seguiram para o Setor Militar Urbano da 6+ Região, na Avenida Paralela. Lá, segundo o advogado criminalista Rogério Andrade, contratado para defender os 12 líderes da greve, Prisco e Angelini fizeram exame de corpo de delito, foram interrogados e levados para a Cadeia Pública, na Mata Escura. O restante do grupo, formado por 245 pessoas, entre mulheres e homens, segundo contagem feita pelo Exército, abandonou o prédio pacificamente, a pé, em motocicletas, carros e no ônibus cedido pelos militares. Após passar pela revista dos agentes da PF, os amotinados ligados à Aspra foram para a assembleia no Sindicato dos Bancários, mesmo local onde votaram pela greve, na noite de 30 de janeiro. De acordo com o tenente-coronel Márcio Cunha, assessor de comunicação da 6+ Região Militar, a Polícia Federal continuaria à procura do restante dos líderes envolvidos no motim da PM. Dos oito líderes do movimento que estavam foragidos, dois foram presos ao longo do dia, além de Jeane Batista de Souza, soldado PM flagrada em gravações combinando uma invasão de um batalhão da PM. Segundo a denúncia do Ministério Público da Bahia, os 12 líderes do motim podem ser processados por "diversos roubos, qualificados pelo uso de armas de fogo e pluralidade de agentes, disparos de arma de fogo em via pública, formação de quadrilha armada, ameaça, dentre outros crimes sob investigação". Depois de desocupada, a Assembleia Legislativa passou por uma revista minuciosa dos policiais federais, que percorreram os quatro andares do prédio, para verificar se havia outros acusados escondidos nas salas. Para trás, o que restou como lembrança do período de ocupação dos grevistas foi um cenário de terra arrasada, onde havia montes de lixo, colchões, travesseiros, restos de comida, jornais e até uma churrasqueira. Segundo o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PDT), os danos físicos ao prédio, como portas arrombadas e vidros quebrados, foram decorrentes da revista feita pelos policiais federais. — Os grevistas não quebraram nada — disse Nilo, que não se diz arrependido de apelar ao Exército para a desocupação. — Estou com a consciência tranquila, pois as pessoas estavam impedidas de trabalhar num local com grevistas armados e nervosos.