Título: No Rio, paralisação decretada
Autor: Silva, Athos Moura
Fonte: O Globo, 10/02/2012, O País, p. 3
Reunidos em vigília na Cinelândia, policiais e bombeiros anunciam greve e exigem soltura de cabo para negociar
Athos Moura Silva Ana Claudia Costa
Horas depois de a Assembleia Legislativa aprovar projeto de antecipação e reajuste salarial, policiais civis, militares e bombeiros decidiram ontem, no final da noite, reunidos na Cinelândia, decretar greve das forças de segurança pública do Rio de Janeiro. Ao anunciar a decisão, às 23h20m, um dos líderes do movimento, do alto do palanque, disse que as negociações só serão inciadas após a soltura do cabo bombeiro Benevenuto Daciolo, preso desde quarta-feira sob acusação de incitar greve e motim. As principais exigências feitas ao governo do estado são, além da soltura de Daciolo: o piso unificado de R$ 3.500, vale-transporte de R$ 350, vale-refeição de R$ 350, além de jornada semanal de 40 horas e pagamento de horas extras.
Líderes querem PMs nos quartéis
Os líderes grevistas recomendaram aos policiais militares que fiquem aquartelados em seus batalhões, levando suas famílias. Até os policiais que trabalham em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram orientados a seguirem para os batalhões mais próximos. De acordo com o sargento do Corpo de Bombeiros Paulo Nascimento, um dos líderes do movimento, os servidores manterão 30% da categoria trabalhando. Cerca de três mil manifestantes ocupavam a calçada diante da Câmara Municipal. Os líderes estavam num palanque improvisada numa das estruturas instaladas para o carnaval. Paulo Nascimento pediu que a população não saia de casa se a greve for decretada, a fim de evitar "acidentes". A mulher do cabo Daciolo, Cristiane Daciolo, subiu ao palanque para reclamar que o militar está preso em Bangu 1, presídio de segurança máxima, como se fosse bandido. Ela disse que um defensor público e um advogado contratado pelos policiais civis estão entrando com pedido de habeas corpus para o militar. Nascimento estima que 70% da tropa do Corpo de Bombeiros vão cruzar os braços. Já o inspetor Francisco Chao, que chefia o movimento pelos policiais civis, disse acreditar que haja a adesão de 50% da categoria. O representante da Polícia Militar, soldado Wagner Luiz da Fonseca e Silva, também estimou que o mesmo percentual de policiais irá optar pela greve. Na manifestação de ontem, os líderes pediam que ninguém fosse armado para a Cinelândia. No entanto, alguns policiais não seguiram a recomendação e exibiam armamentos. A vigília transcorreu de forma pacífica. Apesar de grande parte do grupo gritar palavras de ordem exigindo a liberdade do cabo Daciolo, outros lotavam os bares no entorno da Cinelândia, aguardando o desenrolar das negociações. As mulheres dos manifestantes, muitas com crianças, ocupavam os bancos da praça, inclusive com carrinhos de bebê. Durante a manifestação, a deputada estadual Janira Rocha (PSOL) confirmou que falou com o cabo Daciolo por telefone, mas negou que estivesse incitando a greve. — Eu sou a favor daquilo que os trabalhadores decidirem. Se eles resolverem entrar em greve, eu vou apoiar. Se for o contrário, eu apoiarei do mesmo jeito — disse ela. Um dos líderes dos bombeiros, Paulo Nascimento disse que a PEC-300, que seria votada em Brasília, e que previa a criação de um piso salarial para a categoria em todo o país, serviu para unificar as categorias. Ele acrescentou que já há indicativos de movimento similar em São Paulo, no Pará, no Espírito Santo e até mesmo em Brasília. Ele acrescentou que todos os militares do Rio continuam apoiando os colegas de Salvador. Não houve policiamento na Cinelândia durante a vigília. No início, três policiais montados em cavalos passaram pela Cinelândia, mas foram embora em seguida, alegando que iriam aderir ao movimento.