Título: Argentina faz das Malvinas tema nuclear
Autor:
Fonte: O Globo, 11/02/2012, O Mundo, p. 37
Na ONU, país inclui em denúncia sobre militarização do Atlântico Sul suposta vinda de submarino atômico às ilhas
NOVA YORK. Denunciando agora uma suposta intenção britânica de trazer "armamento nuclear" para a região, a Argentina cumpriu ontem a promessa de levar à ONU suas queixas sobre uma crescente "militarização do Atlântico Sul" empreendida por Londres para garantir seu domínio sobre as ilhas Malvinas — Falklands, para os britânicos. O chanceler argentino, Héctor Timerman, se reuniu com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, antes de encontrar representantes do Comitê de Descolonização da ONU — no qual está marcada para junho uma apresentação da presidente Cristina Kirchner para defender o direito argentino às Malvinas — e do Conselho de Segurança. — Disse a ele que podia contar com a Argentina, que aceita seus ofícios de boa vontade, e disse que, se o Reino Unido também os aceitasse, estaríamos no bom caminho, de uma solução diplomática para o problema. Mas disse também que hoje o Reino Unido tem o maior poderio militar no Atlântico Sul e dei informação sobre temas nucleares, armas nucleares — disse Timerman após a reunião com Ban. O governo argentino decidiu incluir a denúncia sobre "temas nucleares" após reportagem do jornal britânico "Daily Mail" afirmar que o premier britânico, David Cameron, teria dado luz verde ao envio de um submarino movido à energia nuclear às Malvinas em abril, quando se completam 30 anos da guerra pelas ilhas. O submarino seria tripulado por falantes de espanhol, que teriam a missão de monitorar diálogos argentinos. O governo britânico não desmentiu nem confirmou a reportagem. No mês passado, porém, Londres já anunciou que está enviando um moderno navio de guerra para patrulhar as águas territoriais das Malvinas. Essa decisão, somada à presença do príncipe William nas Malvinas para um período de treinamento, provocou duras reações do governo argentino, que desencadearam na denúncia de ontem à ONU. A inciativa argentina, porém, não tem qualquer perspectiva de resultado concreto, já que o Reino Unido detém poder de veto no Conselho de Segurança, que lhe permite brecar qualquer decisão contrária a seus interesses. Após a reunião com Timerman, o secretário-geral da ONU emitiu comunicado em que expressou "preocupação ante as cada vez mais fortes trocas de palavras entre os governos da Argentina e do Reino Unido" e instou os dois países a "evitar a escalada da disputa e resolver suas diferenças pacificamente". O governo Cameron diz que o envio do navio e o treinamento de William são decisões de rotina e que a militarização do Atlântico Sul existe desde o fim da guerra, em reação à ameaça argentina. Londres descarta negociar a soberania das ilhas, argumentando que seus habitantes têm direito à autodeterminação e preferem continuar britânicos. Visão parecida foi expressa pelos próprios habitantes das Malvinas numa rara manifestação pública testemunhada anteontem pelo jornal "La Nación", que a qualificou como a primeira em 13 anos. A manifestação, que reuniu cerca de cem pessoas, foi comandada por chilenos que moram nas ilhas e temem o cancelamento dos voos que ligam as Malvinas a Punta Arenas, no Chile. O governo argentino já ameaçou proibir que esses aviões sobrevoem seu território, mas até agora não concretizou a medida. Cerca de 40 nativos das Malvinas reforçaram o protesto e expressaram seu repúdio à Argentina. — Não queremos que cortem os voos, que são importantes para todos nós. Queremos que a Argentina nos deixe em paz — disse uma das manifestantes.