Título: Após impasse, governo grego aprova cortes
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Fonte: O Globo, 11/02/2012, Economia, p. 31
Em meio a protestos e insubordinação na base, Papademos ameaçou renunciar se medidas não fossem aprovadas
MANIFESTANTES GREGOS cantaram canções de protestos e compararam a crise atual à ditadura militar
Louisa Gouliamaki/AFP
ATENAS. O premier grego, Lucas Papademos, conseguiu ontem de seu gabinete a aprovação do conjunto de medidas que ampliam os cortes fiscais e abrem caminho para que o país europeu receba o segundo pacote de ajuda de 130 bilhões e evite um calote desastroso. A aprovação do acordo de 287 páginas foi unânime, segundo uma fonte do governo. O documento segue agora para o Parlamento onde deverá ser votado hoje. Mais cedo, Papademos ameaçou renunciar ao governo de transição se seu ministério não assumisse a difícil tarefa de aprovar os cortes fiscais, que reduzirão a qualidade de vida da população.
- Não podemos permitir que a Grécia vá à falência - disse ele, em discurso na TV dirigido aos ministros, após a renúncia de vários ministros e vice-ministros. - Nossa prioridade é fazer o que for necessário para aprovar o novo programa econômico.
Papademos é um tecnocrata em uma coalizão formada pelos três principais partidos do país: o socialista Pasok, o conservador Nova Democracia e o ultraconservador Laos. Ele tentava impor sua autoridade, depois que seis membros do governo se demitiram em reação às imposições dos negociadores da troika - formada pela União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigem mais cortes de salários e demissões para reequilibrar a saúde financeira do país.
- Aquele que discordar do novo programa não pode permanecer no governo - afirmou Papademos.
Manifestantes entram em choque com a polícia
O país enfrenta o risco de um calote se não obter a ajuda financeira do novo pacote avalliado em 130 bilhões. No dia 20 de março, vencem o equivalente a 14,5 bilhões em bônus soberanos. Sem nova injeção de recursos, o país não terá como honrar esse compromisso.
Na quinta-feira, o ministro de Finanças, Evangelos Venizelos, chegou a Bruxelas, para uma reunião com colegas de pasta das 16 restantes nações da zona do euro, onde apresentou uma proposta articulada na véspera com líderes políticos. As medidas preveem a demissão de até 150 mil pessoas até 2015, a redução do salário mínimo em 22%, o corte de 400 milhões em investimentos públicos, 300 milhões em cortes militares e outros 300 milhões em cortes de pensões. No total, o pacote prevê uma redução de gastos de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ou 3,3 bilhões.
Ontem o país mergulhou no caos, com os choques entre manifestantes e a polícia. Três policiais e dois manifestantes ficaram levemente feridos nos confrontos. Cinco pessoas foram detidas.