Título: Ação da Petrobras despenca 8,2%
Autor: Ordoñez, Ramona; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 11/02/2012, Economia, p. 29

Com lucro menor, causado por defasagem no preço do combustível, valor de mercado encolhe R$ 28 bi

MUDANÇAS NA ESTATAL

N o primeiro pregão após o frustrante balanço da Petrobras, os investidores castigaram ontem as ações da empresa, que registraram a maior perda de valor desde a crise financeira das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos em 2008. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da Petrobras recuaram 8,28% (para R$ 25,25) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), maior tombo desde dezembro de 2008. Já as ações preferencias (PN, sem voto) recuaram 7,84% (a R$ 23,50), uma baixa que não era vista desde o corte da nota de classificação de risco dos EUA, em agosto. O efeito foi a perda de R$ 28,1 bilhões de valor de mercado em apenas um pregão, para R$ 320 bilhões.

O mercado reagiu à redução de mais de 50% do lucro líquido da estatal no quarto trimestre do ano passado. O presidente da companhia, José Sergio Gabrielli, afirmou que a elevada defasagem dos preços da gasolina e do diesel vendidos pelas refinarias da Petrobras no país, em relação aos preços cobrados no mercado internacional, foi a principal causa para o lucro menor, de R$ 5 bilhões no quarto trimestre de 2011, contra R$ 10,6 bilhões em igual período de 2010.

O diretor Financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, acrescentou que a variação cambial e as paradas não programadas em plataformas, além de alguns ajustes contábeis, também pesaram negativamente. Ao admitir que a defasagem dos preços dos combustíveis gerou impacto no resultado, Gabrielli reafirmou que a política de longo prazo é boa, permitindo estabilizar o caixa:

- Essa estabilização do fluxo de caixa em certos momentos é negativa, mas em outros momentos vai crescer. Estamos em um momento de transição que se refletiu nos resultados do último trimestre do ano.

"Nave em alta velocidade"

Os executivos, contudo, garantiram que o desempenho da companhia é excelente e que o resultado do último trimestre foi influenciado por questões conjunturais. Barbassa destacou que a Petrobras tem R$ 150 bilhões já gastos em diversos projetos, que começarão a dar resultados nos próximos anos:

- A Petrobras é uma nave andando em alta velocidade e em uma rampa em crescimento. Essa é a companhia que temos hoje e que a presidente Graça Foster assume.

Barbassa explicou que a defasagem de preços foi responsável por 50% da queda do lucro da companhia no quarto trimestre. Por barril, o preço médio dos combustíveis vendidos pela Petrobras foi R$ 26,59 abaixo dos preços do mercado americano. Em 2010, essa diferença ficou em R$ 7,95 por barril:

- No fim do ano passado ficamos bastante sofridos com a defasagem.

Segundo ele, a variação cambial também teve forte impacto nos custos do petróleo e nos custos gerais. No fim do ano passado, o dólar estava a R$ 1,86, contra R$ 1,66 no fim de 2010.

Outra causa para a redução do lucro foram as paradas não programadas nas plataformas por exigências dos órgãos reguladores, como a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Segundo o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, isso resultou em redução média de 40 mil barris diários na produção, com impactos no aumento de custos operacionais.

Durante a apresentação dos resultados financeiros, com a presença de toda a diretoria, Gabrielli se mostrou bem humorado e descontraído. A diretora de Gás e Energia, Graça Foster, que assumirá a presidência da Petrobras na próxima segunda-feira, não quis fazer qualquer comentário sobre seus planos à frente da companhia.

- Estou sem gravata porque estou ficando baiano. Estou sem gravata para fazer a transição, porque a partir de terça-feira, estarei na gloriosa cidade de São Salvador - afirmou Gabrielli.

Em janeiro, a demanda brasileira por gasolina cresceu 36% em comparação com o mesmo mês do ano passado, um recorde histórico. A informação foi dada pelo diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, ao explicar que o consumo médio em janeiro ficou perto de meio milhão de barris por dia (493 mil barris diários). No ano passado, o consumo médio da gasolina cresceu 24%, enquanto em 2010 o aumento tinha sido de 18%.

- O consumidor está optando pela gasolina em vez do álcool e a frota de automóveis continua crescendo. Só em janeiro foram vendidos 250 mil automóveis - explicou Costa.

Com as refinarias a plena carga, a Petrobras vem aumentando as importações de gasolina, que pularam de uma média de 9 mil barris diários em 2010 para 45 mil barris por dia no ano passado. Em janeiro deste ano, as importações já estão em 80 mil barris por dia.

Bovespa recuou mais de 2%

Segundo analistas, o fraco resultado interrompeu a trajetória de recuperação das ações da empresa, que ainda sobem 10,75% e 10,38% neste ano nos papéis ordinários e preferenciais, respectivamente. Essa recuperação foi liderada por compras de investidores estrangeiros, que foram justamente os que derrubaram os papéis da Petrobras ontem, com destaque para corretoras como Merrill Lynch, Morgan Stanley, Credit Suisse e Deutsche Bank.

Erick Scott, analista da SLW Corretora, afirma que o resultado da área de Abastecimento da Petrobras, responsável pela importação de combustíveis e refino de petróleo, foi o principal responsável pela queda da lucratividade. Para abastecer o mercado interno, o setor importou, entre petróleo e derivados, 749 mil barris por dia em 2011, 22% a mais do que os 615 mil barris diários de combustíveis do ano anterior.

- O problema é que esse combustível comprado a um preço caro no exterior é vendido mais barato internamente, provocando prejuízo. Isso provocou perda de R$ 9,9 bilhões da área. O controle de preços da gasolina prejudicou a empresa. E isso não deve mudar com a troca de comando da companhia - afirma Scott.

Apesar do pessimismo, a consultoria Economatica divulgou uma nota lembrando que o lucro da companhia em 2011 - de R$ 33,3 bilhões - foi o terceiro maior da história, com valores ajustados pelo IPCA até dezembro. O maior lucro ajustado da Petrobras foi em 2008, com R$ 38,81 bilhões.

A Petrobras empurrou a Bovespa para a maior queda entre as principais bolsas mundiais, em um dia de perdas nos mercados por causa da Grécia. O Ibovespa recuou 2,34%, aos 63.997 pontos. Foi a maior baixa do mercado brasileiro neste ano. O dólar comercial subiu 0,29%, a R$ 1,726, registrando alta semanal de 0,52%, a primeira no ano. Ainda assim, acumula queda de 1,2% no mês e de 7,65% no ano.

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