Título: Comandante anuncia fim da greve; PMs negam
Autor: Azevedo, Maíra; Ferreira, Wagner
Fonte: O Globo, 11/02/2012, O País, p. 12

Movimento perdeu força no interior; 160 pessoas foram mortas em Salvador e na Região Metropolitana, desde 31 de janeiro

SALVADOR. O comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Alfredo Castro, afirmou ontem de manhã que 85% dos policiais voltaram a trabalhar e considerou a greve terminada. À noite, no entanto, em assembleia, os PMs decidiram continuar a paralisação. Uma nova assembleia está marcada para hoje, às 16h, quando será decidido o rumo do movimento. Em algumas cidades do interior, o policiamento já foi restabelecido, mas, em Salvador, as tropas enviadas pelo governo continuam nas ruas. A greve entra hoje no seu décimo primeiro dia. Desde seu início, em 31 de janeiro, 160 pessoas foram assassinados em Salvador e na Região Metropolitana, segundo a Superintendência de Telecomunicações das polícias Civil e Militar.

Durante a greve, média de 14 assassinatos por dia

Com o balanço, a média é de 14 assassinatos por dia. Além das mortes, foram registradas 82 tentativas de homicídios e 378 carros roubados e furtados. As mortes de um policial civil, no sábado, e do percussionista do Olodum, Denilton Souza Cerqueira, dia 2, não estão registradas nesse boletim. Essas ocorrências foram computadas como latrocínios, roubo seguido de morte, e ainda estão sendo investigadas. Ao decretar o fim da greve, e dar um ultimato para que os PMs retornassem ao trabalho, sob o risco de punição, o coronel Castro causou insatisfação entre os militares que permaneciam parados. O novo líder do movimento, Ivan Leite, procurou a imprensa para avisar que a paralisação só terminaria quando a tropa tomasse essa decisão em assembleia. Segundo Ivan Leite, as ameaças de punição do comando da PM pioraram a situação. Os grevistas aceitaram a proposta do pagamento de uma gratificação (GAP IV) em novembro, como quer o governo. Dizem, no entanto, que não aceitam punições administrativas. O coronel Castro chegou a dizer pela manhã que "a partir de hoje (sexta-feira) a ausência ao trabalho não vai ser mais vista como adesão ao movimento grevista". — A ausência está sendo vista como uma falta ao serviço, que, se confirmada, será punida com o rigor da lei — afirmou o coronel.

No carnaval, 3.200 homens nas ruas de Salvador

Segundo o coronel, os PMs faltosos podem ter o dia não trabalhado descontado do salário ou até serem presos em unidade militar. Castro admitiu que, mesmo com o suposto retorno dos PMs ao trabalho, ainda há bairros vulneráveis. — Há dificuldade de policiamento na (avenida) Suburbana e (no bairro de) Cajazeiras, mas isso não é motivo para que as pessoas tenham medo de ir para a rua. O policiamento está cada vez mais se normalizando — disse. O comandante da PM também afirmou que o carnaval está mantido. Segundo ele, 3.200 homens farão a segurança na rua, entre policiais de Salvador e de cidades vizinhas. O Exército reforçará o efetivo e continuará em Salvador, enquanto a situação não estiver normalizada, disse o comandante. Ele afirmou que as negociações continuam abertas, mas não apresentou a nova proposta. O presidente da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), o ex- PM Marco Prisco, e o outro líder do movimento, o ex-cabo Antônio Paulo Angelini, estão detidos em celas isoladas na Cadeia Pública, segundo o advogado deles, Rogério Andrade. Os dois PMs não têm contato com os demais presos. O advogado disse que Prisco está tranquilo e confiante que, com a divulgação na íntegra das ligações grampeadas, será provado que ele não articulou atos ilícitos. O ex-PM também disse acreditar que a decisão dele, de se entregar, pode contribuir para sua soltura. Os outros dois presos, o sargento Elias Alves de Santana e o soldado Alvin dos Santos Silva, estão na Polícia do Exército. Não há informações sobre onde está detida a soldado Jeane de Souza. Policiais militares filiados à Associação dos Oficiais da PM da Bahia se reuniram anteontem à noite e decidiram não aderir à greve . — Nós estamos juntos com seis associações e todas são a favor do fim da greve, embora a proposta do governo, principalmente a questão salarial, não atenda às nossas necessidades— disse Edmilson Tavares, presidente da associação. Convocada em caráter extraordinário, a reunião teve 205 participantes: 151 votaram contra a greve e 54 foram favor