Título: Ministra quer punição a torturador
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 11/02/2012, O País, p. 11

BRASÍLIA. Numa cerimônia marcada pela emoção, com presença de um públíco majoritariamente feminino, a presidente Dilma Rousseff deu posse ontem à "amiga e companheira" dos duros tempos da prisão Eleonora Menicucci como nova titular da Secretaria de Política para Mulheres. Apesar de ser favorável à legalização do aborto, Eleonora voltou a dizer que defenderá as políticas do governo. Ex-militante de esquerda na ditadura militar e ex-companheira de cela da presidente, Eleonora também defendeu a punição a militares torturadores ao declarar que não concordava com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o tema. Em 2010, o tribunal declarou que a Lei de

Anistia não permite que militares ou militantes respondam a processos por atos cometidos à época.

Na solenidade, Dilma lembrou o período da ditadura, em que as duas ficaram presas no presídio Tiradentes, em São Paulo, na chamada "Torre das Donzelas", e afirmou que a presença da ex-colega de armas no ministério "vai engrandecer" seu governo.

- Compartilho com a Eleonora uma história de luta pela democracia e tenho certeza de que nós muito nos orgulhamos dessa história. Estivemos juntas e compartilhamos no presídio Tiradentes a dura experiência da prisão. Eu posso afirmar a vocês que esses são momentos em que o caráter e a dedicação às convicções e às causas são testados à exaustão. Por isso, eu tenho certeza, que meu governo ganha hoje uma lutadora incansável, e inquebrantável pelos direitos das mulheres - discursou Dilma.

Eleonora rebateu críticas da bancada evangélica do Congresso Nacional às suas posições pessoais sobre aborto.

- Só quero dizer que mulheres morrem por aborto inseguro. É a quarta causa de morte materna, e a quinta causa do SUS (Sistema Único de Saúde). Eu sou sanitarista. O governo tem uma posição em relação a isso que é pública, e nós vamos trabalhar nesse sentido - afirmou.

Na cerimônia de posse, no Planalto, ela lembrou de Luiz Eduardo da Rocha Merlino, o Nicolau, se dizendo "testemunha ocular do seu assassinato por tortura". Foi aplaudida por todos. de pé , inclusive pela presidente.

Perguntada sobre a decisão do STF sobre a Lei de Anistia, foi lacônica:

- Discordo da posição do STF (sobre a Anistia), e concordo com a posição do STF de ontem (sobre a Lei Maria da Penha).