Título: Sinal amarelo ligado
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 09/09/2009, Política, p. 4

Aprovação popular ao governo Lula cai quatro pontos, segundo a pesquisa CNT/Sensus

Dilma ainda não tem imagem ligada a Lula e perdeu pontos na sucessão

Os problemas no Congresso Nacional, a tensão na Receita Federal e o aumento do número de casos de gripe suína(1) no país tiveram impacto modesto na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e na avaliação do governo. De acordo com a pesquisa CNT/Sensus, divulgada ontem, a aprovação da população brasileira ao governo Lula bateu em 65,4% em setembro, contra 69,8% registrados em maio. Já a avaliação positiva do presidente caiu de 81,5% para 76,8% levando em conta os mesmos períodos. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais.

O episódio envolvendo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e a ex-secretária da Receita Lina Vieira refletiu em queda na intenção de votos da pré-candidata do governo à sucessão de Lula. Entre os entrevistados que ouviram falar do possível encontro entre as duas, 35,9% acham que Lina é quem está falando a verdade.

O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, acredita que a queda na avaliação positiva é consequência da postura do presidente de assumir as crises que atingem o país. Para o líder do Democratas na Câmara, Ronaldo Caiado (DEM-GO), os número refletem a arrogância do titular do Planalto: ¿Ele acha que é todo-poderoso, acima do bem e do mal. As coisas vão aos poucos mostrando que a sociedade não tolera esse comportamento¿, disse. Líder do PSB na Câmara e integrante da base governista, Rodrigo Rollemberg (DF) faz análise por prisma oposto. ¿A queda está dentro da margem de erro. A aprovação ao governo Lula está consolidada em bases substantivas.¿

O estudo analisou cenários da disputa presidencial. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), abriu vantagem em relação à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na disputa pelo Palácio do Planalto. Ele aparece na frente da petista e dos demais candidatos. Na sondagem espontânea, o tucano tem 7,7% das intenções de votos, seguido por Dilma, com 4,8%, pelo governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), com 3,1%, e pelo deputado Ciro Gomes (PSB), com 1% dos votos. A senadora Marina Silva (PV) foi lembrada por 0,9% dos entrevistados.

Oito cenários de pesquisas estimuladas foram elaborados. No primeiro, Serra lidera com 39,5%. Dilma Rousseff tem 19%, seguida por Heloísa Helena (9,7%) e Marina Silva (4,8%). Destaque para o fato de 27,2% manifestarem que não têm candidato definido. Na segunda lista, com Aécio como presidenciável pelo PSDB no lugar de Serra, Dilma leva vantagem, com 23,3% contra 16,8% do governador mineiro. Completam a lista Heloísa Helena (13,5%) e Marina Silva (8,1%). Os sem candidato somam 38,5%.

Em um cenário de segundo turno entre Serra e Dilma, o tucano venceria, segundo a sondagem: 49,9% responderam que votariam no candidato do PSDB, contra 25% de opiniões favoráveis a Dilma. Se a disputa fosse entre a ministra e o governador mineiro, Dilma sairia na frente, com 35,8%, e Aécio ficaria com 26%. Mesmo estando na frente do tucano, o cenário aponta queda nas intenções de voto para a ministra. Em maio, neste mesmo cenário com Aécio, Dilma tinha 39,4%, contra 25,9% do tucano. ¿Dilma ainda não agregou votos¿, explica Guedes. De acordo com o pesquisador, o candidato apoiado pelo presidente tem, por enquanto, apenas 20,8% das intenções manifestas de voto.

Saúde Um dos piores cenários para o governo na sondagem está na área de saúde. Depois de uma série histórica de avaliações negativas, a pasta tinha apresentado índices positivos. Agora, no entanto, voltou a cair. Em maio, 44,3% dos entrevistados achavam que a saúde havia piorado. Hoje, o índice é de 49,4%. Mais de 83% das pessoas têm acompanhado os desdobramentos da pandemia de gripe suína. Esse percentual é maior do que o registrado em maio: 73%. Entre os que acompanharam ou ouviram falar sobre a doença, 42,1% acham que o país não tem combatido adequadamente o problema.

1- Decisões impopulares Algumas medidas adotadas pelo Ministério da Saúde (MS) no combate à doença foram criticadas por especialistas da área e pela população. Entre elas, a proibição da venda do antiviral Tamiflu, medicamento indicado para o tratamento da doença. Outro ponto citado como prejudicial à imagem da área de saúde foi a realização de exames para confirmação da gripe suína somente em casos graves.

Marina tem alta rejeição Cadu Gomes/CB/D.A Press - 15/8/09 Ex-ministra do Meio Ambiente precisa vencer uma recusa inicial de 39%

Pela primeira vez incluída na pesquisa CNT/Sensus, a senadora Marina Silva (PV-AC), possível candidata do Partido Verde à Presidência, aparece neste início de corrida eleitoral com um alto índice de rejeição: 39% dos entrevistados pela pesquisa afirmaram que não votariam nela, apesar de 33,3% dizerem desconhecê-la. A senadora se filiou no fim de agosto ao PV. Conhecida pela causa ambiental, Marina deve enfrentar problemas com a temática única. Ela se desligou recentemente do Partido dos Trabalhadores (PT), onde militou por 30 anos. A filiação de Marina foi um acontecimento, com cerca de 1 mil pessoas em São Paulo.

A rejeição a Marina só não é maior do que a de Ciro Gomes (39,9%), Heloísa Helena (43%) e Antônio Palocci (45,8%). ¿Tradicionalmente, quem tem até 35% de reprovação está dentro do jogo político. Acima disso, é complicado¿, estima Ricardo Guedes. A ministra Dilma registrou índices de 37,6%.

A pesquisa CNT/Sensus foi feita com 2 mil entrevistados em 136 municípios de 24 estados das cinco regiões do país.

Tradicionalmente, quem tem até 35% de reprovação está dentro do jogo político. Acima disso, é complicado¿

Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus

Colaborou Tiago Pariz