Título: País entre osdez que mais doam para ONU
Autor:
Fonte: O Globo, 12/02/2012, Economia, p. 46

Diplomacia brasileira quer imprimir um novo modelo de atuação

O coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome (CGFome) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Milton Rondó Filho, admite que a cooperação internacional é "uma via de mão dupla":

- O país começou a contribuir para o Programa Mundial de Alimentos da ONU em 2007 e já ascendeu, em 2011, para a décima posição no ranking mundial dos contribuintes.

Rondó antecipou que o orçamento 2012 para o programa CGFome será de R$ 24,6 milhões.

Entre os programas de cooperação técnica mais emblemáticos do país está o Cotton 4, que envolve quatro países africanos e, não por mera coincidência, os mesmos que apoiaram o Brasil na luta por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

O projeto é desenvolvido pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), em parceria com a Embrapa, que está testando sementes de algodão em Benin, Burkina Fasso, Chade e Mali. Os quatro países já são tradicionais produtores de algodão, mas precisam melhorar não só o produto como a produtividade local.

Caso as sementes que estão sendo testadas venham a ser compatíveis com as condições climáticas desses quatro países, o Brasil terá aberto um novo mercado para o agronegócio brasileiro.

Brasil não quer ser visto como doador tradicional

O aumento da projeção do Brasil como fornecedor de recursos lá para fora - o que está ajudando a aumentar a respeitabilidade do país entre os vizinhos da América Latina, África e Oriente Médio - é visto como uma evolução natural. É que o país vem crescendo economicamente e, paulatinamente, reduzindo sua necessidade de ajuda externa.

- Só que o país não quer ser visto como um doador tradicional e vem procurando se distanciar, ao máximo, do modelo adotado pelos países do Hemisfério Norte, que costumam impor condicionantes na cooperação internacional - analisa a pesquisadora Ana Saggioro, da PUC-Rio.

Ela chama a atenção, por exemplo, para o fato de outros emergentes, como é o caso da China, cooperar financeiramente com países da África em troca de recursos naturais, especialmente de petróleo.

O coordenador-executivo da ActionAid Brasil, Adriano Campolina, admite que o país vem mostrando ser possível dar passos fundamentais para combater a fome, mas está convencido de que a diplomacia brasileira poderia "incluir mais" a sociedade civil na cooperação internacional:

- A Espanha é um exemplo a ser seguido, porque 20% da ajuda espanhola vêm da sociedade civil. (Liana Melo)