Título: N a Conab, parte do patrimônio em ruínas
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 12/02/2012, O País, p. 17

Relatório mostra que maioria dos prédios está em mau estado

eboli@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA. No centro de recentes escândalos políticos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem em seu patrimônio fazenda invadida pelo MST, prédio ocupado por sem-teto, dois galpões que viraram fábricas de sapato, e vários imóveis abandonados, destruídos por vândalos e em "estado de ruína". Antigos terrenos viraram igreja evangélica, em Rondônia, e até cemitério, no Piauí. Mais da metade dos 276 imóveis da Conab - 156 (56%) - está à venda. E a maioria em estado precário. É a imobiliária da sucata.

Do acervo a ser vendido, praticamente a metade - 76 (49%) - está desocupada. E, do que será alienado, 31% são armazéns convencionais (de produtos embalados), 29% são terrenos, 24% são prédios, 5% armazéns a granel, e 1% é frigorífico. O valor contábil, com base em laudos defasados e antigos, desses imóveis é R$ 280 milhões. Atualizados, podem chegar a R$ 1 bilhão.

Na Conab, sobram imóveis inúteis, velhos, abandonados e com desvio de função, e faltam construções modernas e adequadas aos novos tempos. Várias superintendências regionais importantes, caso de Minas Gerais, sequer têm sede própria. A companhia funciona em todo o país com 120 imóveis.

Houve descontrole ao longo dos anos. A Conab, antiga Cobal, foi adquirindo imóveis que foram abandonados e largados onde estavam. A maior parte que está a venda é de baixíssima liquidez e não desperta interesse do mercado imobiliário. A Conab, em seu "Relatório dos Imóveis da Conab", de outubro de 2011, a que o GLOBO teve acesso, conclui que o acervo à venda está em situação de "sucateamento e obsolescência".

O relatório diz que poucos imóveis serão vendidos e que a estatal terá que arranjar como um se desfazer do resto. A Conab informa que nos últimos 21 anos vem se desfazendo de seus imóveis inúteis e que se desfez de 250 por meio do Programa de Racionalização de Ativos - ou Plano de Desimobilização. A companhia passou os últimos três anos fazendo o levantamento imobiliário. Na lista de patrimônio há poucas joias da coroa, como o complexo da Cobal no Rio, ainda que bastante subavaliadas nos antigos laudos, de 1999, da Conab. O conjunto de lojas e boxes do hortomercado da unidade Humaitá-Botafogo foi avaliado em R$ 11,3 milhões. O galpão do Leblon, local frequentado pelas classes média e alta, foi avaliado em R$ 13, 9 milhões.

Entre os prédios no Rio que a Conab quer vender, e logo, está o Museu do Índio, na avenida Maracanã. A situação atual é de alienação em negociação com o governo do Rio, que quer o prédio para construir instalações visando a Copa de 2014 e as Olimpíadas. O valor estimado é de R$ 14 milhões, em agosto de 2010.