Título: Oficial teria usado estratégia do aperta, afrouxa
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 12/02/2012, O País, p. 10

Porta-voz da operação em Salvador defende atitude de coronel

• Na última quarta-feira, um dia após ganhar o bolo dos PMs grevistas, o constrangimento de GDias era ainda maior pela presença do general Odilson Sampaio Benzi, chefe do Comando Militar do Nordeste, que desembarcara em Salvador em meio a uma chuva de críticas a seu comandado pela condescendência com os grevistas. Um oficial da reserva, com experiência em ações de manutenção da ordem pública, disse que o gesto é sinônimo de desprestígio de Gonçalves Dias:

- Talvez ali, naquele fervor, ele tenha levado bem a conversa. Mas o militar não é um negociador. Ele tem de ficar neutro, observando, para tomar uma atitude, seja ela suave ou mais dura. A partir do momento em que se envolveu diretamente com os manifestantes, perdeu a isenção.

Na segunda-feira, quando o cerco foi erguido, às custas de rápidos confrontos entre a tropa e os manifestantes que ficaram do lado de fora da Assembleia, o general se aproximou da área de imprensa para dizer que não queria derramamento de sangue ou mortes no local. No dia seguinte, quando as posições do Exército já haviam se consolidado, GDias foi até o gramado onde estavam os manifestantes para reafirmar que não haveria combates, razão pela qual nem sequer usava colete à prova de balas. Foi nesse momento que ocorreu a polêmica cena do bolo.

O coronel Hertz Nascimento, porta-voz da operação, afirmou que o general aplicou nos grevistas da PM a estratégia do "aperta, afrouxa". No dia seguinte ao bolo, já com a presença do general Benzi, o contingente de tropas federais seria ampliado de 1.040 para 1.500 homens. Também foi ordenado o corte de água e luz e a proibição de entrega de alimentos e remédios aos cerca de 250 grevistas que ocupavam a Assembleia Legislativa desde o dia 31.

- Sabíamos que havia gente armada no centro, à direita e à esquerda. Dentro do prédio, os grevistas mantinham crianças. Uma delas, ao sair, emocionou o general ao dizer, trêmula e aliviada, que nunca mais o esqueceria - disso coronel.

Apesar da polêmica, a estratégia pode ter atingido os objetivos. O jornalista baiano Valdeck Filho, que participou da ocupação do prédio, disse que os manifestantes ficaram sensibilizados com o gesto do oficial:

- Ele usou a estratégia certa: conquistar o inimigo para depois derrotá-lo, como aconteceu na conquista de Troia.

Desde quarta-feira, Gonçalves Dias não se expôs mais. Até o momento da rendição, permaneceu dentro da área reservada aos militares. Dali, no dia seguinte, comandou a rendição do ex-bombeiro Marco Prisco, líder da greve, e dos demais grevistas sitiados no prédio. (Chico Otavio).