Título: Polícia investiga negligência em morte de garoto
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 15/02/2012, O País, p. 13

Filho do presidente da Embratur morre após crise de asma; família diz que houve demora no atendimento e hospital nega

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MARCELO, filho do presidente da Embratur, morreu após crise de asma; família diz que houve negligência

Reprodução/Internet

BRASÍLIA. A Polícia Civil do Distrito Federal abriu inquérito para investigar se houve negligência ou erro médico, ontem, na morte do filho do presidente da Embratur, Flávio Dino. O adolescente Marcelo Dino, de 13 anos, estava internado com crise de asma desde a véspera, na UTI do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.

Marcelo morreu por volta das 7h. Ainda pela manhã, um tio do jovem - o procurador da República Nicolao Dino - registrou boletim de ocorrência na 1 Delegacia de Polícia do DF. Ele relatou que teria havido demora no atendimento e na administração de remédios ao menino, dentro da UTI.

Em nota, o Hospital Santa Lúcia informou que Marcelo foi internado no início da tarde de segunda-feira, diretamente na UTI, com grave crise de asma. Ainda segundo o texto, familiares do menino teriam relatado à equipe de atendimento que Marcelo sofria de asma crônica, era usuário de bronco-dilatadores, e sofreu um ataque da doença pela manhã, com perda de consciência, ao praticar esporte na escola.

De acordo com o hospital, o garoto passou a noite consciente, com quadro estável, sendo monitorado na UTI. Por volta das 6h, porém, o menino queixou-se de desconforto e dificuldade para respirar. "Foi verificado quadro súbito de piora de oxigenação, e a equipe responsável pela assistência iniciou os procedimentos emergenciais; o paciente não respondeu às manobras de reanimação e veio a óbito por volta de 7h, quando a família foi comunicada", diz a nota.

Família contesta informações divulgadas por hospital

É nesse ponto que o boletim de ocorrência feito pelo tio da vítima levanta suspeitas sobre a atuação da equipe médica. Segundo o delegado-chefe, Anderson Jorge Espínola, ele disse que Marcelo voltou a apresentar extrema dificuldade de respirar 20 minutos após receber uma dose de remédio contra asma (Solu-cortef), às 5h30. A mãe do jovem, caçula do primeiro casamento de Flávio Dino, estava na UTI e teria acompanhado o drama.

- Teria ocorrido demora no atendimento dos profissionais na UTI, bem como na liberação dos medicamentos que seriam ministrados - disse o delegado.

Em janeiro, o Santa Lúcia foi alvo de outra acusação de negligência. Dessa vez, na morte do então secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, que sofreu infarto aos 56 anos, no dia 19. Duvanier teria buscado atendimento, sem sucesso, em dois hospitais particulares de Brasília, um deles o Santa Lúcia. O hospital negou a acusação.

O delegado Espínola pretende ouvir médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, e familiares, além de professores e profissionais do Colégio Marista, onde o menino estudava.

O delegado disse que Marcelo teria morrido de parada respiratória, segundo dados do hospital. A nota do Santa Lúcia, porém, afirma que só o exame do Instituto Médico Legal (IML) esclarecerá a causa da morte.

- Não quero saber só a causa. Me interessa se os procedimentos médicos adotados, desde a internação até o óbito, foram corretos - disse Espínola, à espera do laudo do IML, cujo prazo para elaboração é de até 30 dias.

O diretor-jurídico do Hospital Santa Lúcia, Gustavo Marinho, lamentou a morte de Marcelo e negou que negligência ou demora no atendimento.

- Não tem como ter ocorrido demora, porque a UTI é uma área aberta, com um boxe no meio. Para um médico sair, um outro tem que ficar lá. Existia um médico fazendo o atendimento direto do menino. Ele solicitou que a enfermeira chamasse outro médico, que foi lá e entubou a criança. Mas, infelizmente, o pulmão não respondeu.

Segundo Marinho, os remédios necessários ao tratamento estavam na própria UTI, num dos "carrinhos de parada".

O enterro do corpo de Marcelo está marcado para hoje, às 10h, em Brasília.

O diretor-jurídico disse que o caso de Marcelo é completamente diferente do episódio envolvendo o então secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier. Ele afirmou que Duvanier chegou ao hospital dirigindo o próprio carro, entrou caminhando e perguntou se o estabelecimento aceitava o convênio Geap. Ao ouvir a resposta negativa, segundo Marinho, o então secretário foi embora, dizendo que preferia atendimento num local conveniado.

Gustavo disse ainda que a Delegacia do Consumidor do DF recomendou a celebração de termo de ajuste de conduta, junto ao Ministério Público, para impedir que todos os hospitais particulares do DF exijam cheque caução. Segundo ele, o Santa Lúcia não exige cheque caução de pacientes com plano de saúde aceito pelo hospital.