Título: Durante greve da PM na Bahia, 180 mortes
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 13/02/2012, O País, p. 3

Governo diz que não anistiará grevistas nem revogará prisões; paralisação durou 12 dias

SALVADOR. A Secretaria de Segurança Pública da Bahia registrou 180 homicídios durante os 12 dias de greve da Polícia Militar no estado, uma média de 15 mortes por dia. O balanço levou em consideração os dados registrados do dia 31 de janeiro até as 21h de sábado, 11 de fevereiro, logo após a assembleia realizada no Ginásio do Sindicato dos Bancários, no Centro de Salvador, que pôs fim ao movimento. Durante a paralisação, 402 veículos, média de 33,5 por dia, foram roubados. Os registros de assassinatos e roubos de carros durante a greve dobraram em relação à média das ocorrências em janeiro, conforme os boletins da SSP: nos 30 primeiros dias do ano, ocorreram 202 assassinatos (média de 6,7 por dia) e 436 veículos foram roubados (média de 14,5 por dia). Apesar do fim da greve, na manhã de ontem, vários veículos do Exército e soldados das Forças Armadas ainda eram vistos circulando pelas ruas de Salvador. No Largo do Farol da Barra, onde se iniciam os desfiles carnavalescos do circuito Dodô, chamava atenção o carro blindado do Exército, modelo Urutu, estacionado ao lado de um parquinho infantil onde crianças brincavam. Ao menos seis soldados do Exército, armados com fuzis automáticos, faziam guarda ao lado do veículo. — Não disseram que a greve acabou, para que essa turma armada aqui? — perguntou um senhor que fazia cooper e manifestava contrariedade com a presença das Forças Armadas. A notícia sobre o fim da greve foi dada pelo porta-voz da Associação dos Policiais, Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), soldado PM Ivan Leite, que passou a integrar a comissão grevista depois da prisão do dirigente da associação, o ex-PM Marco Prisco, que está na Cadeia Pública. Segundo o secretário de Comunicação do estado, Robinson Almeida, os policiais que foram presos durante a greve não serão anistiados e não terão as prisões revogadas. — Só a Justiça poderá dizer isso. Reafirmo que não haverá anistia — disse Robinson. O secretário informou que o reajuste salarial de 6,5% está mantido para a categoria, além do pagamento de 70% da GAP 4, em novembro deste ano, e os 30% restantes em abril de 2013. Já a GAP 5 será paga escalonadamente entre 2014 e 2015. De acordo com o porta-voz dos grevistas, o ponto crucial para a decisão dos associados da Aspra foi a proposta do comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, que anunciou, na última sexta-feira, a anistia administrativa dos militares que faltaram ao serviço nos dias de greve. Isso depois de, pela manhã, ele ter "decretado" o fim da paralisação e ameaçado cortar o ponto dos PMs que não retornassem ao trabalho. — Foi uma decisão da categoria em nome da população baiana, que estava sofrendo nesse período diante da intransigência do governo — discursou Ivan Leite. Segundo ele, as negociações envolvendo os prazos para o pagamento das gratificações por atividade policial (GAP) níveis 4 e 5 continuarão. Ainda de acordo com ele não foi colocado na pauta de votações o relaxamento das prisões dos 12 líderes grevistas, entre eles, Marco Prisco. Embora duvide das suposições que apontam a participação de PMs em eventos criminosos durante a greve, o soldado concorda com a punição dos casos que vierem a ser comprovados. — Se alguém cometeu crimes, que pague por eles — disse o policial.