Título: Grécia só tem austeridade como saída
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Fonte: O Globo, 14/02/2012, Opinião, p. 6

A situação da economia grega é muito difícil, mas pior ficaria se o país tivesse de abandonar o euro como moeda ou se retirar da União Europeia. Essa certamente foi a avaliação do parlamento ao aprovar no último fim de semana, em Atenas, o pacote de austeridade fiscal proposto pelo governo. Diante da onda de protestos nas ruas era até de se esperar que o pacote passasse por estreita margem de votos, o que não aconteceu, pois foi endossado por ampla maioria (119 votos a favor contra 74, além de 22 ausências e cinco abstenções). O pacote envolve cortes de despesas da ordem de G 3,3 bilhões somente este ano, o que implicará cortes de salários e pensões, e mais a demissão de milhares de funcionários públicos em um programa de enxugamento da máquina estatal — sabidamente inchada — que se estenderá até 2015. Em contrapartida, o pacote de austeridade deve assegurar à Grécia a liberação de mais recursos do fundo de ajuda de G 130 bilhões da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Dentro de algumas semanas vencerão dívidas no valor de G 14,5 bilhões, e a Grécia só terá condições de quitálas ou renová-las com essa ajuda financeira externa. A onda de protestos nas ruas de Atenas em nada resolverá essa situação, e pode inclusive agravá-la, pois o país precisa muito do turismo para superar a crise. E clima de insegurança social não combina com turismo de qualquer tipo. O padrão de vida alcançado pelos gregos era totalmente artificial, pois foi financiado por enorme déficit público. O guarda-chuva do euro facilitou esse financiamento por longo tempo, a ponto de a dívida pública grega atingir um patamar insustentável. Com o agravamento da crise financeira iniciada em 2008, a farra acabou. A Grécia, assim como outros países da zona do euro, não conseguiu mais rolar sua dívida em bases razoáveis. O problema não se restringiu ao território grego, pois havia o temor, concreto, que a quebra de um dos elos da moeda única, por mais fraco que fosse, pudesse desencadear uma crise sistêmica envolvendo todo o setor bancário europeu, chegando a atingir os eixos principais da economia da União Europeia. Pacotes de ajuda oficial foram negociados para socorrer a Grécia, mas ficou evidente que, sem uma redução drástica do déficit público, a liberação de recursos serviria apenas para enxugar gelo. O pacote de austeridade fiscal agora aprovado pelo parlamento em Atenas cortará despesas que não poderiam ser feitas, mesmo que a Grécia partisse para um calote total de sua dívida, porque, em um segundo momento, não haveria como financiar seu déficit público. Então, o pacote é uma tentativa de ajuste à realidade. Por mais que gere sacrifícios no curto prazo, é uma luz no fim do túnel para os gregos. As condições de financiamento da dívida grega tenderão a melhorar pouco a pouco, dentro de um processo de restruturação que já se iniciou. E ao sair da beira do precipício, a Grécia contribuirá para recuperação da economia europeia, fundamental para o próprio país sair do atoleiro.