Título: Zona do euro encolheu no quarto trimestre
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Fonte: O Globo, 16/02/2012, Economia, p. 28
Economia da Itália entra em recessão e recua 0,7%, mas França surpreende analistas e cresce 0,2% no período
BRUXELAS, PARIS, ESTRASSBURGO e ZURIQUE. A economia da zona do euro encolheu no último trimestre de 2011 e enfrenta o fantasma da recessão em meio à crise da zona do euro. Porém, o recuo de 0,3% anunciado ontem pela Eurostat, a agência de estatísticas do bloco, ficou abaixo da previsão dos economistas, que previam uma queda de 0,4%. O resultado se deveu ao desempenho de Alemanha e França, as duas maiores economias da região. Para analistas isso pode significar que os dois países talvez consigam evitar um desastre para o bloco.
Mas evidenciou também uma divisão entre os países do Norte e do Sul do continente, onde a Itália, que viu seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) recuar 0,7%, na mesma comparação. Com isso, o país se uniu a Bélgica, Grécia e Portugal na recessão, pois também havia recuado no terceiro trimestre (tecnicamente, um país entra recessão após dois trimestres seguidos de queda). Portugal caiu 1,3% e a Grécia, pivô de uma intrincada negociação para um segundo pacote de ajuda, que evite o calote do país, encolheu 7% em termos anuais. Esses países estão sob pressão da Comissão Europeia para adotarem medidas de austeridade impopulares e recessivas, para sanearem suas contas. Isto aumenta a tensão política na região.
Por outro lado, a Alemanha recuou 0,2%, ante uma previsão de um recuo de 0,3%. O resultado se contrapõe a um crescimento de 0,6% no terceiro trimestre. Já a França surpreendeu os analistas com uma expansão surpreendente induzida pelo investimento das empresas e o gasto do consumidor. O país apresentou um crescimento de 0,2% no quarto trimestre de 2011, quando os economistas haviam apostado numa queda 0,1% no período. Agora, os analistas já dizem que o país poderá evitar a recessão.
Desempenhos mostram diferença entre países
A queda da zona do euro foi a primeira contração desde o segundo trimestre de 2009, no auge da crise financeira global. Naquela ocasião, o PIB do bloco diminuiu 0,2%, lembrou a Eurostat. Revelando o efeito devastador da crise da dívida soberana do países do euro nos negócios e na economia, o PIB avançou apenas 0,7% no quarto trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse desempenho representa um forte contraste com a expansão de 2,4% no começo de 2011, quando a Europa se recuperava com força da crise de 2008 e 2009.
Apesar dos sinais de estabilização em janeiro, com os mercados mais calmos e o crescimento mais forte dos Estados Unidos, analistas ouvidos pela agência Reuters preveem que a economia da zona do euro encolherá 0,4% em 2012, voltando ao crescimento em 2013.
Mesmo uma leve recessão mascara a diferença entre as nações mais ricas do norte da Europa e aquelas mais pobres e menos produtivas do sul, que viveram além de seus recursos no passado e agora enfrentam anos de austeridade para reduzir a dívida pública e reformar suas economias. O premier italiano, Mario Monti, alertou ontem que a crise da dívida está alimentando perigosas divisões e ressentimentos dentro do bloco. Segundo ele, é um erro tentar dividir os países membros entre "bons" e "ruins". Em discurso no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, Monti afirmou que os países do Sul, as chamadas economias periféricas, são acusados pela crise da dívida, França e Alemanha têm uma responsabilidade maior no afrouxamento das regras fiscais do bloco.
- A crise da zona do euro deu margem a muito ressentimento e recriou muitos estereótipos, que dividiram a Europa em países centrais e países periféricos. Todas essas categorias devem decididamente ser rejeitadas - disse Monti.
O premier acrescentou que a crise foi originada por França e Alemanha, quando, com o apoio da Itália, esses países desmantelaram as regras do Pacto de Estabilidade em 2003, para perdoar sua própria falta de responsabilidade fiscal:
- Não há "bons" e "maus" na União Europeia - disse ele.
Monti, que foi interrompido várias vezes por aplausos, afirmou que é correta a estratégia de fortalecer a disciplina fiscal, mas esta política deve ser acompanhada por uma grande ênfase em medidas para ajudar o crescimento econômico e o emprego.
Oficialmente, o governo italiano prevê uma contração do PIB de 0,4% este ano, mas essa projeção é considerada irrealista por analistas independentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que a terceira economia da zona do euro vai encolher 2,2% este ano, ao passo que o Confindustria, órgão patronal italiano, vê uma queda de 1,6% e o Banco Central da Itália, um recuo entre 1,2% e 1,5%.
Holanda também
entrou em recessão
Outro país que entrou em recessão foi a Holanda, com uma queda de 0,7% do PIB no quarto trimestre de 2011, depois de ter registrado queda de 0,4% no trimestre anterior.
Ao mesmo tempo em que a agência de classificação de riscos Moody"s cortou na segunda-feira os ratings soberanos de seis países da zona do euro, entre eles Itália e Portugal, afirmando que seus governos não fizeram o suficiente para restaurar a confiança do investidor, a economia da região tem mostrado sinais de melhora. O sentimento econômico no bloco melhorou em janeiro e a produção no setor de serviços cresceu.
- Poderia ter sido pior (o resultado do PIB da zona do euro) - disse Martin van Vliet, economista do grupo ING, em Amsterdã. - A crise da dívida inverteu a recuperação da zona do euro. A recente melhora nos indicadores principais sugere que há uma chance razoável de que a economia da zona do euro como um todo não encolha mais no primeiro trimestre.
As 27 economias da União Europeia (UE) também encolheram 0,3% em conjunto no período entre outubro e dezembro do ano passado. Destacando o efeito nocivo da crise de dívida nos negócios e na economia, o PIB cresceu apenas 0,7% no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior.