Título: Crise afeta lucro da Vale
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 16/02/2012, Economia, p. 25
Apesar de recorde de US$ 22,9 bi em 2011, ganho da mineradora recua no quarto trimestre
Henrique Gomes Batista, Vinicius Neder e Bruno Rosa
Embora tenha apresentado faturamento e lucro líquido recordes em 2011, a Vale viu seus resultados desacelerarem no quarto trimestre, afetados pela crise global. Os papéis da companhia viveram um dia de forte queda com a expectativa do anúncio dos números, que só foram divulgados na noite de ontem. Segundo balanço divulgado, a receita operacional no ano passado chegou a R$ 105,5 bilhões, valor 23,6% superior aos R$ 85,3 bilhões faturados em 2010. O lucro da empresa somou R$ 37,814 bilhões em 2011, 25,75% a mais que os R$ 30,070 bilhões do ano anterior.
Em dólares, o lucro líquido fechou o ano em US$ 22,9 bilhões, uma alta de 32,6% sobre os US$ 17,264 bilhões de 2010. A empresa admitiu, no entanto, que o resultado do último trimestre foi pior por causa da crise internacional, que reduziu os preços do minério de ferro, principal produto da companhia.
"Os resultados do quarto trimestre de 2011 foram bastante robustos, mas inferiores (em dólar) ao do terceiro trimestre de 2011, como consequência de menores preços devido à recessão europeia e às expectativas negativas produzidas pela crise de endividamento da zona do euro", afirmou a empresa em comunicado.
Lucros menores
em 2012
A redução do lucro no quarto trimestre veio em linha com o esperado pela maior parte dos analistas do mercado financeiro, que estimavam uma redução entre 20% e 22% no resultado da companhia em dólares - na moeda americana, o lucro líquido caiu de US$ 5,917 bilhões no quatro trimestre de 2010 para US$ 4,672 bilhões nos últimos três meses do ano passado, uma redução de 21,04%. O número do fim de 2011, contudo, indica que a empresa pode ter resultados menores em 2012, uma vez que a crise continua, com uma economia europeia enfraquecida. Além disso, é esperada uma redução do crescimento da China, principal locomotiva da economia global.
Em reais, o lucro líquido de outubro a dezembro do ano passado somou R$ 8,354 bilhões, resultado 16,5% inferior aos R$ 10,002 bilhões registrados no quarto trimestre de 2010. Já em relação ao terceiro trimestre do ano passado, por causa da variação cambial, houve ganho de 5,8%.
Pela manhã, foi divulgado relatório do banco de investimentos Credit Suisse, que rebaixou a recomendação para as ADRs (recibos de ações negociados no mercado americano) da Vale. As análises do banco suíço costumam ser seguidas por investidores estrangeiros. Ontem, as corretoras que se destacaram vendendo ações da mineradora na Bovespa foram Credit Suisse, Morgan Stanley e Link, controlada pelo também suíço UBS, de acordo com dados da agência Bloomberg News.
A empresa informou ainda que as vendas de minério de ferro e pelotas foram recordes no ano passado, chegando a 299,1 milhões de toneladas, um volume 1,6% superior ao registrado em 2010. O presidente da companhia, Murilo Ferreira, comemorou os resultados, segundo nota divulgada pela Vale:
"Nosso desempenho financeiro foi extraordinário, o melhor de todos os tempos. Batemos vários recordes, a despeito de um ambiente econômico desafiador. A execução disciplinada de nossa estratégia e a performance das operações foram essenciais para que pudéssemos nos beneficiar da forte demanda global por minérios e metais".
Ações caem 1,87% na Bovespa
Segundo a companhia, o retorno de capital aos acionistas atingiu o valor recorde de US$ 12 bilhões, composto pela distribuição de dividendos de US$ 9 bilhões, equivalente a US$ 1,7354 por ação ordinária ou preferencial, e pelo programa de recompra de ações de US$ 3 bilhões, totalmente executado. Para 2012, a empresa já havia anunciado um dividendo mínimo de US$ 6 bilhões.
"Em 2011, o retorno aos acionistas atingiu o valor recorde de US$ 12 bilhões, o que comprova que a Vale é uma empresa com excelente desempenho e enorme potencial", afirmou em nota o presidente do Conselho de Administração da Vale, Ricardo Flores.
A empresa também informou que em 2011 os investimentos somaram US$ 18 bilhões, em uma conta que exclui o gasto com aquisições. Deste total, US$ 13,4 bilhões foram gastos com execução de projetos e pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações da Vale tiveram desempenho na contramão do mercado. Enquanto o Ibovespa, índice de referência nacional, subiu 0,51%, as ações ordinárias (ON, com voto) da mineradora recuaram 1,76% (R$ 43,47) e as preferenciais (PNA, sem voto) perderam 1,87% (R$ 42,08). Os resultados da empresa foram divulgados após o fechamento do mercado.
- É possível que investidores tenham antecipado a expectativa negativa com o balanço, mas os estrangeiros podem ter saído dos papéis também - disse Daniella Maia, analista da corretora Ativa.
- As ações da Vale estão bem no ano, reagindo à entrada do investidor estrangeiro na Bolsa - lembra o estrategista-chefe da corretora SLW, Pedro Galdi.
Mesmo com a queda de ontem, os papéis da Vale acumulam no ano alta de 10,19% (ON) e 11,26% (PN).
Ontem, o Porto de Dalian, na China, divulgou estar procurando mais cooperação com a Vale, aparentemente se aproximando da maior produtora de minério de ferro do mundo após Pequim ter proibido no mês passado os supernavios da companhia de atracarem no principais terminais do país. Em comunicado, o porto afirmou esperar "fortalecer a comunicação e continuar a aprofundar a cooperação para obter um resultado em que os dois lados saiam ganhando".
A declaração aconteceu após uma visita na semana passada do diretor da Vale para metais ferrosos e estratégia, José Martins. No comunicado, o porto afirmou ter melhorado a infraestrutura em seu ancoradouro com capacidade para 300 mil toneladas para atender "às exigências para grandes navios atracarem e às necessidades para transferências". (Com agências internacionais).