Título: Kassab vai a Dilma, mas diz não ter decisão
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 16/02/2012, O País, p. 10

Tucanos veem reunião dos dois como um sinal de que a aliança PT-PSB em São Paulo está definida; prefeito nega

Catarina Alencastro, Luiza Damée Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Após se reunir com a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, ontem à tarde, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente do PSD, afirmou que o apoio de seu partido na sucessão municipal paulistana ainda não está decidido. Embora suas conversas com o PT para aderir à campanha do pré-candidato Fernando Haddad já estejam adiantadas, Kassab manteve aberta a possibilidade de se aliar ao ex-governador José Serra, caso o tucano decida entrar no páreo.

Kassab deixou em aberto as duas possibilidades de aliança, o que aumenta a desconfiança de setores do PSDB de que o prefeito de São Paulo terá dificuldades para abandonar o barco petista. O encontro dele com Dilma, mantido fora da agenda presidencial até a última hora, foi visto como mais um movimento do PSD em direção a Haddad.

- O processo sucessório em São Paulo está se iniciando. Todos sabem a relação que existe hoje entre o PSD e o PT. E todos sabem da nossa posição. Portanto, temos o interesse de fazer o encaminhamento da nossa sucessão da maneira mais correta e transparente possível. Queremos abraçar o melhor projeto para a cidade - disse o prefeito. - Todos conhecem, e o próprio PT entende, que a nossa gestão é uma gestão do Serra e do Kassab.

Prefeito nega que esteja fazendo jogo duplo

Ele negou que esteja fazendo jogo duplo com o PT e o PSDB. Em seguida, ressaltou que o processo sucessório está no início e disse que as negociações serão conduzidas com "bastante cuidado":

- Tudo tem o seu tempo. A relação com o PT é muito respeitosa, muito transparente e muito honesta. As declarações do candidato Fernando Haddad têm sido muito adequadas e têm expressado as nossas conversas. Têm sido assim também as manifestações do presidente nacional, Rui Falcão, e do presidente estadual, Edinho (Silva), e os vereadores têm sido corretos nas abordagens e na oposição ao governo. E todos sabem a relação que existe com o ex-governador José Serra, que é pública e transparente.

Enquanto Kassab era recebido no Planalto, alguns tucanos já davam como perdido o apoio do PSD à candidatura do PSDB na capital paulista, mesmo que Serra aceite entrar na disputa. Apesar das declarações de Kassab em favor do ex-governador de São Paulo, a avaliação é que o prefeito paulistano possa encontrar na demora do tucano para se decidir a desculpa para se aliar ao PT.

Ciente do risco de que poderá perder o apoio do PSD, a cúpula do PSDB fará de tudo para que Serra tome uma decisão até o fim do carnaval e, de preferência, antes das prévias tucanas marcadas para 4 de março. Embora os índices de rejeição à Serra na capital paulista sejam considerados preocupantes, a direção do PSDB considera que o nome dele é o mais competitivo, pois, no mínimo, garantiria que a eleição em São Paulo vá para o segundo turno.

Os tucanos avaliam que, mesmo sem um eventual apoio de Kassab e do PSD, Serra teria condições de polarizar a eleição paulista, que despontava para uma queda de braço governista entre o petista Haddad e o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP).

- Uma eventual candidatura de José Serra representará a resistência das forças democráticas ao esforço de hegemonia do PT - disse o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

O encontro de Dilma e Kassab não estava na agenda de nenhum dos dois. Na da presidente, só foi incluída quando o prefeito já estava deixando o Planalto. Kassab jurou que não falou de eleição com Dilma:

- Não foi tratada essa questão. Seria uma desconsideração com a presidente. Estou aqui como prefeito de São Paulo, e não como líder partidário. Seria uma indelicadeza.

No encontro, do qual só os dois participaram, Kassab disse que a conversa girou em torno da dívida da capital paulista com o governo federal, que chega a R$ 40 bilhões, e sobre a candidatura da cidade para sediar a Expo Mundial de 2020. O prefeito também aproveitou a oportunidade para reafirmar o convite que já havia feito a ela para passar um dia do carnaval em São Paulo.