Título: Síria sofre revés na Assembleia Geral da ONU
Autor:
Fonte: O Globo, 17/02/2012, O Mundo, p. 35

Regime é condenado, e Ban reforça suspeitas de crime contra a Humanidade. Ofensiva se volta às cidades de Hama e Deraa

AFP

NOVA YORK e DAMASCO. O apoio de países amigos - como Irã, Venezuela, Rússia, China e Coreia do Norte - não bastou para resguardar o presidente Bashar al-Assad. A primeira grande vitória diplomática internacional nas tentativas de frear o derramamento de sangue na Síria ocorreu bem perto do poderoso Conselho de Segurança da ONU - onde Pequim e Moscou bloqueiam iniciativas contra Damasco: na Assembleia Geral. A entidade de 193 países-membros conseguiu, finalmente, aprovar ontem uma resolução condenando o regime sírio com 137 votos favoráveis, 12 contrários e 17 abstenções.

O impacto da medida é meramente simbólico, uma vez que as resoluções da assembleia não têm caráter compulsório. Mas, ainda assim, trata-se de um termômetro e tanto da opinião dos países do mundo. O texto aprovado, baseado numa proposta de paz da Liga Árabe - vetada anteriormente por Rússia e China no Conselho de Segurança - denuncia violações dos direitos humanos e o uso da violência pelas autoridades sírias contra a população, além de apontar o governo como único responsável pelas "violações sistemáticas". O que levou os russos, maiores fornecedores de armas ao governo de Damasco, a reiterarem seu repúdio ao documento.

- Não podemos votar numa resolução que permanece desequilibrada, que direciona todas as exigências ao governo e nada diz sobre a oposição - justificou o vice-chanceler russo, Gennady Gatilov.

Diplomacia brasileira vota

a favor do documento

O embaixador sírio na ONU, Bashar Jafaari, também insistiu em condenar os esforços internacionais de interferência na crise. Alegando que o referendo constitucional convocado em Damasco ainda neste mês "cria um clima de pluralismo político", ele acusou a Liga Árabe de colaborar com "países que não querem encontrar uma saída pacífica para a Síria.

O governo brasileiro endossou a iniciativa.

Mais cedo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia engrossado a pressão pela condenação. E apontado indícios de crimes contra a Humanidade.

- Vimos bairros bombardeados indiscriminadamente, hospitais usados como centros de tortura, e crianças, algumas de 10 anos, detidas e submetidas a abusos. Há, possivelmente, alguns tipos de crimes contra a Humanidade - constatou.

Em outra frente de ação, o chanceler francês, Alain Juppé, reuniu-se com seu colega russo, Sergei Lavrov, para tentar convencer o governo de Moscou a retirar o apoio ao regime sírio. Mas, enquanto o francês alegava acreditar na chance de um novo compromisso no Conselho de Segurança, o discurso do chanceler russo destoava:

- O ministro me disse que estão pensando numa nova resolução visando ao envio de ajuda humanitária - minimizou Lavrov. - Não posso dar minha opinião sobre a proposta francesa porque não recebi nada.

A movimentação diplomática, porém, não foi o bastante para conter a violência. Ativistas denunciaram bombardeios maciços contra as cidades de Hama e Deraa, no Sul do país. Nessa última, havia relatos de 19 mortes - sendo 11 integrantes de uma mesma família.

Jornalista e blogueira

são presos em Damasco

Em Damasco, imagens postadas no YouTube mostravam um grupo de cerca de 100 pessoas entoando gritos de ordem contra o governo. Mas a resposta do regime Assad foi rápida. A blogueira Razan Ghazzawi, um dos símbolos do levante, o jornalista Mazen Darwish, diretor do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão, e mais 12 militantes de oposição foram presos na capital. Segundo testemunhas, eles foram levados à força por agentes da segurança quando faziam uma reunião na sede da ONG.