Título: Grécia fecha acordo de cortes com credores
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Fonte: O Globo, 17/02/2012, Economia, p. 28
Governo espera decisão sobre novo socorro de 130 bi na segunda-feira. Relações com Alemanha ficam mais difíceis
ATENAS e BERLIM. A Grécia e seus credores internacionais fecharam um acordo sobre como alcançar cortes orçamentários no valor de 325 milhões neste ano, uma das últimas exigências para que o país receba um pacote de resgate de 130 bilhões, disseram ontem fontes do governo grego. Esses recursos são essenciais para que Atenas honre vencimentos da dívida de 14,5 bilhões em 20 de março, evitando assim um calote. A expectativa agora é que a União Europeia (UE) aprove o novo socorro na próxima segunda-feira.
- Cem milhões de euros virão de um corte nas despesas operacionais do Ministério da Defesa, e cerca de 90 milhões virão do corte, mais cedo que o previsto, de alguns salários do setor público - disse uma das fontes à Reuters, em condição de anonimato. - Os 135 milhões restantes virão de cortes adicionais nas despesas operacionais dos Ministérios do Interior, da Saúde e do Trabalho. As economias do Ministério do Trabalho podem ser relacionadas a cortes na Previdência.
Outra fonte do governo confirmou a informação.
A Alemanha sinalizou ontem que uma proposta para parcelar o pacote de 130 bilhões, liberando parte apenas depois das eleições gregas, em abril, não está mais em discussão. Mas uma fonte do governo alemão disse à Reuters que ainda há questões pendentes.
"Quem é Schaüble para insultar a Grécia?"
A relutância do governo alemão em liberar mais recursos para a Grécia está azedando as relações entre os dois países. Em artigo publicado ontem no "New York Times", sob o título "Não humilhem os gregos", o editor do jornal grego "Kathimerini", Alexis Papahelas, afirma que ninguém aguenta mais os estereótipos de preguiçosos. E diz que a Alemanha deveria lembrar as humilhações sofridas após a Primeira Guerra Mundial antes de aplicar o mesmo tratamento aos gregos.
Na véspera, o presidente grego, Karolos Papoulias - um veterano de 82 anos da resistência aos nazistas - manifestara sua indignação com o ministro de Finanças alemão, Wolgang Schaüble, que chamou a Grécia de "poço sem fundo".
- Não posso aceitar que o senhor Schaüble insulte meu país - afirmou Papoulias. - Quem é ele para insultar a Grécia?
Já o ministro da Ordem Pública, Christos Papoutsis, afirmou ontem que quaisquer novas demandas "significarão que estão fazendo piada de nosso país":
- Alguns países na Europa se esquecem de que por trás dos números há pessoas.
Sindicalistas estão convocando protestos "contra aqueles que defendem a ocupação alemã" para domingo.