Título: Abertura no G-20
Autor: Cantellano, Patricia Espinosa
Fonte: O Globo, 19/02/2012, Opinião, p. 7

Neste fim de semana, os ministros de Relações Exteriores do Grupo dos 20 (G-20) realizarão uma reunião informal, mas nem por isso menos importante, em Los Cabos, Califórnia. O propósito deste encontro é abrir um processo de diálogo no qual a experiência e o compromisso globais de cada um dos participantes permitam analisar as melhores maneiras de enfrentar e superar alguns dos mais importantes desafios atuais. O Grupo dos 20 — ou G-20, hoje presidido pelo México — é um fórum global sobre cuja importância e influência não há dúvidas. O Grupo é composto por 19 países, além da União Europeia como bloco econômico. Estes 19 países incluem as oito nações mais industrializadas do planeta, bem como onze países que representam as economias emergentes mais importantes do globo. As reuniões regulares dos governadores de bancos centrais e ministros de finanças destes países e, desde há poucos anos, os encontros também frequentes de seus chefes de Estado e de Governo, têm permitido um diálogo e acordos indubitavelmente frutíferos para promover a estabilidade financeira internacional. É um fato que a profunda crise de 2008, cujas consequências o mundo ainda enfrenta, teria tido efeitos ainda mais negativos não fosse a convergência de políticas econômicas chave impulsionada pelo G-20. O G-20 ocupa-se fundamentalmente de questões econômicas e financeiras, e assim deverá continuar a atuar. No entanto, precisamente devido à sua influência positiva nesses assuntos, o México considerou que não se deveria perder a oportunidade de realizar uma reflexão conjunta sobre outros temas tão ou mais importantes. Em um mundo globalizado, tanto os problemas como a responsabilidade de enfrentá-los são compartilhados. A falta de crescimento econômico, o aumento nos preços dos alimentos, a excessiva exploração dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente não são somente desafios econômicos, mas também sociais. Da mesma forma, as graves desigualdades em nossas sociedades, as deficiências em matéria de educação e saúde, a corrupção, o chamado "teto de vidro" que impede o avanço da mulher e as ações do crime transnacional organizado são, além de graves problemas sociais, verdadeiros obstáculos ao crescimento econômico e ao desenvolvimento pleno de nossos países. Globalidade é e exige responsabilidade. Por isso o México convidou os ministros de Relações Exteriores do G-20 à reflexão sobre quatro grandes temas que consideramos essencial abordar se queremos contribuir para a construção de uma ordem internacional de paz, segurança e desenvolvimento regida pelo direito internacional. São eles: 1. Governança global e melhorias no sistema multilateral para que possa enfrentar os desafios globais; 2. Ações específicas para enfrentar os desafios mundiais de maneira eficaz; 3. Construção de entendimentos em matéria de crescimento verde e desenvolvimento sustentável; e 4. Governança global e desenvolvimento humano. Para o México é uma obrigação ineludível empreender, junto com os chanceleres dos países que integram o G-20 e com os de outras nações, a análise em nível político desses temas. A experiência e o compromisso globais dos ministros participantes são a melhor garantia da utilidade deste exercício de reflexão. No espírito de inclusão e transparência que tem dado a seu papel como presidente do G-20, o México decidiu convidar à reunião de Los Cabos representantes de países líderes de outras regiões (Argélia, Emirados Árabes Unidos, Azerbaijão, Cingapura, Áustria e Noruega), tentando assim conseguir que a reflexão conjunta que ali terá lugar seja não só mais ampla, mas também mais representativa da diversidade da comunidade global. O México realiza a Reunião Ministerial de Los Cabos com o objetivo de impulsionar e nutrir esse chamado do G-20 a uma ação firme e oportuna para enfrentar questões diretamente vinculadas ao nosso bem-estar. Não há, nem pode haver, crescimento e estabilidade econômicos sem um desenvolvimento social e integral que os nutra e proteja. Certamente não existe desenvolvimento sem crescimento econômico, mas é um fato que, se o crescimento econômico não consegue traduzirse em um bem-estar generalizado, estará condenado a ser fugaz.