Título: Novo socorro à Grécia fica mais próximo de se tornar realidade
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Fonte: O Globo, 21/02/2012, Economia, p. 14

Atenas teria aceitado supervisão fiscal. País poderia precisar de mais 245 bi

BRUXELAS e ATENAS. Os ministros de Finanças da zona do euro, que formam o Eurogrupo, reuniram-se ontem em Bruxelas para discutir um segundo pacote de ajuda à Grécia, no valor de 130 bilhões. O encontro, que começou às 13h30m (horário de Brasília), entrou pela noite. Às 23h30m ainda não fora divulgado qualquer comunicado oficial. Antes de a reunião começar, o ministro espanhol, Luis de Guindos, afirmou haver acordo "em 90%" dos detalhes. Os 10% restantes se refeririam a uma supervisão fiscal externa sobre as contas de Atenas, exigida pela Alemanha mas considerada humilhante pelos gregos.

À noite, um relatório que vazou para a imprensa apontava que os 130 bilhões podem não ser suficientes, precisamente por causa das medidas de austeridade exigidas da Grécia, que incluem demitir 15 mil funcionários públicos e reduzir salários e aposentadorias. Segundo o jornal britânico "Financial Times", uma recessão provocada pelos cortes do governo e o fechamento dos mercados financeiros à Grécia após a reestruturação de sua dívida significariam que, mais à frente, o país precisaria de 245 bilhões adicionais.

A agência de notícias Reuters afirmava ainda que, segundo o relatório, a Grécia não conseguiria reduzir sua dívida dos atuais 160% para 120% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020, como demandam Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE). O patamar de 124% seria mais factível.

Berlim, além de querer a nomeação de um comissário fiscal para administrar os recursos do novo socorro, defende que estes fiquem em uma espécie de conta bancária controlada. O jornal americano "New York Times" afirmou, citando fontes, que o governo grego teria aceitado a supervisão e a conta especial.

Mais cedo, o ministro grego, Evangelos Venizelos - que foi à reunião acompanhado pelo premier Lucas Papademos - mostrava otimismo. "Esperamos que hoje termine um grande período de incerteza", afirmou ele em comunicado.

O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, também estava confiante:

- Gostaria de acreditar que alcançaremos um acordo final esta noite - disse ele antes da reunião. - A Grécia cumpriu todas as exigências prévias.

BCE troca 40 bi de dívida grega em seu poder

Paralelamente à reunião do Eurogrupo, a Grécia discutia os termos da troca de sua dívida com os credores privados, disse à Reuters uma fonte do governo grego. Segundo essa fonte, participavam das discussões os principais executivos do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), Charles Dallara e Josef Ackermann. Uma das hipóteses discutidas é que os credores aceitem uma perda superior à que já foi acordada, de 70% do valor dos papéis.

O BCE completou ontem uma operação de troca de 40 bilhões em títulos da dívida grega, o que trará alívio ao Tesouro do país. Segundo o "Wall Street Journal", essa operação não trará ganho ou perda para o BCE. Os novos papéis têm vencimento em três anos.

Em Atenas, estudantes cercaram o Parlamento em um mais um dia de protestos contra as medidas de austeridade aprovadas pelo governo.

Apostando na aprovação do novo socorro à Grécia, os mercados europeus fecharam ontem em alta. Londres avançou 0,68%, enquanto Frankfurt e Paris subiram 1,46% e 0,96%, respectivamente. O euro avançou 1%, a US$ 1,3277. Wall Street não funcionou devido ao feriado do Dia do Presidente.

Mas muitos permanecem céticos. Em entrevista à revista "Der Spiegel", o diretor do think tank alemão Ifo, Hans-Werner Sinn, disse que a Grécia só pode resolver sua crise se deixar o euro. Para muitos economistas, uma nova ajuda agora só adiará um inevitável calote.

Doze países da UE pedem crescimento em carta

Os governos de 12 países da União Europeia (UE) enviaram uma carta aos presidentes do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, com propostas para impulsionar o crescimento da Europa, informou ontem o premier italiano, Mario Monti. Entre estas, a liberalização do setor de serviços e a desregulamentação do mercado de trabalho. A carta é assinada por Itália, Espanha, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Finlândia, Polônia, Estônia, Lituânia, Eslováquia, República Tcheca e Suécia.

"O crescimento estagnou, o desemprego está aumentando, cidadãos e empresas enfrentam as condições mais duras dos últimos anos", afirma a carta. "É preciso modernizar nossas economias, reforçar nossa competitividade e corrigir nossos desequilíbrios macroeconômicos".

O texto propõe suprimir a ajuda estatal ao sistema financeiro, acabar com as restrições no setor de energia para obter um mercado energético eficiente em 2024, unificar o comércio eletrônico no bloco em 2015 e liberalizar o comércio com EUA, Rússia e China. (Do El País, com agências internacionais)