Título: Atenas deveria ter sabático do euro
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Fonte: O Globo, 22/02/2012, Economia, p. 19

Kenneth Rogoff defende volta temporária da dracma para Grécia superar crise

ROGOFF: "Fracasso de dimensões históricas"

Matthew Staver/Bloomberg News

Considerado um dos economistas mais brilhantes de sua geração, o professor Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, acredita que a aprovação do segundo pacote de socorro à Grécia dificilmente será suficiente para salvar o euro ou mesmo o próprio país. Ele defende que o governo de Atenas receba um "período sabático" da moeda comum, a fim de retomar sua competitividade. Em entrevista à revista semanal alemã "Der Spiegel", concedida antes da aprovação do pacote pelos ministros de Finanças da zona do euro, Rogoff acrescenta que a Grécia não enfrenta uma "recessão comum, e sim uma crise em grande escala".

- O tamanho da dívida da Grécia é simplesmente grande demais, e o país não é competitivo. Na verdade, vai ser muito difícil manter a Grécia na zona do euro - afirma o professor, para quem as medidas de austeridade do país são insuficientes. - Para tornar a Grécia competitiva, os salários teriam de ser reduzidos à metade. Isso é politicamente impossível de ser implementado. A Grécia está vivenciando seu quinto ano consecutivo de recessão. É um fracasso de dimensões históricas.

Conhecido por defender ideias polêmicas, que depois passam a ser amplamente aceitas - caso dos bancos centrais independentes que perseguem metas de inflação, há 20 anos -, Rogoff avalia que a solução seria a Grécia deixar temporariamente a união monetária e reintroduzir a dracma. Ele diz que a moeda sofreria uma imediata desvalorização em relação ao euro, o que tornaria as exportações e o turismo grego imediatamente mais competitivos.

- O governo de Atenas deveria receber uma espécie de sabático do euro, ao mesmo tempo permanecendo um membro pleno da União Europeia. Uma vez que o país tivesse alcançado um desenvolvimento social, político e econômico maior, poderia retornar ao euro - explica Rogoff, que foi diretor do Departamento de Pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI) entre 2001 e 2003.

Para evitar o risco de um colapso provocado pela saída temporária da Grécia, a Europa teria que garantir que o país não sofreria qualquer punição pela medida e teria que sinalizar claramente o caminho para retornar à zona do euro, explicou o economista.

- Se a Grécia deixar o euro, os mercados vão demandar respostas sobre duas questões: primeiro, quais os países vão se manter definitivamente no euro? E, segunda, qual preço a Europa está disposta a pagar por isso? O problema é que os europeus não têm respostas convincentes para essas perguntas.