Título: Argello exonera contador de cargo de assessor
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 23/02/2012, O País, p. 5

Cícero Gomes ganhava R$ 3,2 mil para trabalhar no Senado, mas não era visto no Congresso

BRASÍLIA. O senador Gim Argello (PTB-DF) decidiu exonerar o assessor Cícero Gomes, contador do parlamentar há cerca de 30 anos. A decisão foi publicada ontem no Diário do Senado, porém o ato foi assinado no último dia 17, dois dias depois de o caso ser revelado pelo GLOBO. Gomes era contratado do Senado, com salário mensal de R$ 3,2 mil, porém trabalha diariamente em seu escritório de contabilidade.

De acordo com a assessoria de Argello, a decisão foi tomada em comum acordo entre o senador e o subordinado, para preservar a imagem do contador. Ao GLOBO, na semana passada, o gabinete informou que não existia irregularidade na contratação. Porém, após a publicação da reportagem, fez uma consulta formal à Diretoria do Senado para avaliar a regularidade do processo. Como não houve resposta do órgão, a decisão foi pela exoneração do servidor.

A assessoria de Argello argumentou que Gomes prestava consultoria contábil ao gabinete, auxiliando na prestação de contas da verba indenizatória e na avaliação de associações beneficiadas pelo parlamentar. Entre 2009 e 2011, porém, o contador estava lotado como motorista da Terceira Secretaria do Senado. Ao GLOBO, o ex-servidor contou na semana passada que não tinha horário definido e que trabalhava para o senador sempre quando era convocado, inclusive aos sábados e domingos.

O contador era beneficiado por uma resolução do Senado, que permite a dispensa do ponto para alguns servidores, que têm presença abonada pelo chefe de gabinete. No caso do petebista, de 45 assessores do gabinete, 38 não precisavam bater ponto até a última semana.

Da mesma forma que Argello, diversos senadores dispensam o ponto da maioria dos assessores, até no gabinete em Brasília. Pelo menos 11 dos 81 senadores se valeram da resolução para liberar do ponto todos os funcionários do gabinete, sem exceção. A prática está disseminada em partidos da base do governo e de oposição. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) liberou, por exemplo, seus 21 assessores do ponto eletrônico, assim como o senador José Agripino (DEM-RN) e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Na última semana, OGLOBO também revelou que o gabinete do senador Cícero Lucena (PSDB-PB), primeiro-secretário do Senado, emprega, desde junho do ano passado, uma funcionária que não aparece para trabalhar praticamente desde que foi nomeada. A assessoria do senador confirmou que ela não vai ao trabalho e informou que abriu um processo interno para a demissão da servidora. Jacquelyne é filha do empresário João Rafael de Aguiar, que tem empreendimentos na região de Guarabira e é o segundo suplente de Cícero Lucena no Senado.