Título: Um lugar onde ninguém nasce
Autor: Duarte, Alessandra; Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 23/02/2012, O País, p. 3

Em Patos do Piauí, não há maternidade, e projetos de melhoria ficam pelo caminho

PATOS DO PIAUÍ (PI). O bebê André dos Reis Ferreira, de menos de um mês, não nasceu na cidade onde mora com seus pais, os agricultores Agnaldo André Ferreira e Maria do Divino dos Reis, mas em Picos, a 81 quilômetros de Patos do Piauí. A Unidade Mista de Saúde Aluízio Coelho dos Reis, o único estabelecimento de saúde de Patos, só atende casos ambulatoriais e faz pequenas suturas. Os acidentados na rodovia federal que atravessa a cidade ou pacientes com problemas de pressão alta, por exemplo, têm de ser levados para Picos ou para Teresina.

- Não tem maternidade e, quando é caso de primeira gravidez, como foi o caso da Maria, eles mandam logo para Picos ou Teresina, porque há risco de cesariana, e a Unidade não faz nenhuma cirurgia. Por isso, nenhuma criança de Patos do Piauí nasce em Patos - conta a dona de casa Ivana Lopes Ferreira, tia de André.

Em Patos, pacientes que têm problemas de saúde durante a noite gastam até R$ 200 de frete de carro para serem atendidos em hospitais de outras cidades.

- Quando sobe minha pressão, fico sem ar e com dores, sou obrigado a pagar R$ 200 para alugar um carro para chegar à cidade de Jaicó (48km distante). Ou eu pago ou eu morro, porque, apesar de a unidade ficar perto de minha casa, sempre está fechada durante a noite - afirma o agricultor Alberto Evangelista, de 57 anos.

Sem transporte público, moradores da zona rural têm de pagar entre R$ 15 e R$ 20 para ir de moto até a cidade.

A falta de atendimento médico é apenas um dos problemas. Na prefeitura, poucos são os computadores, e existem só quatro secretarias - a de Administração e Finanças, ocupada por um agrônomo; a de Educação, por uma professora; a de Agricultura, também por uma professora; e a de Assistência Social, por uma agente comunitária de saúde.

Sem conseguir aprovar projetos, o município arca com todas as despesas, o que gera déficit mensal de R$ 100 mil. Segundo o prefeito Sílvio José da Silva (PMDB), a única renda provem do Fundo de Participação dos Municípios, no valor de R$ 400 mil mensais. O resultado é uma cidade sem quadras de esporte, com a praça central depredada, sem saneamento, sem biblioteca ou programas de assistência que o governo federal oferece.

Patos não aproveitou a oferta da Caixa Econômica Federal para a construção de casas pelo Programa Minha Casa Minha Vida.

- Mandei alguns projetos nas áreas de esporte e lazer, mas nunca tive retorno - diz o prefeito.