Título: O maior amor do presidente
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 24/02/2012, O Mundo, p. 27

Com preço alto do petróleo, governo usa assistencialismo como estratégia eleitoral

O preço da água mineral caiu e o do desodorante também. Além disso, taxistas - hoje a profissão mais perigosa da Venezuela dada a quantidade de assaltos - ganharam, sem custos, uma frequência própria de rádio para se comunicar entre si; e familiares de presos (motins afetaram recentemente o país) frequentam centros de acolhimento recém-construídos perto de penitenciárias. Em ano de eleição, e com o preço do barril a US$ 117, o governo Hugo Chávez não poupa seus petrodólares. Seja em projetos menores como os descritos acima, seja em programas como o chamado pelo presidente de "O maior amor", que dá assistência de US$ 360 mensais a mulheres acima de 55 e homens acima de 60 anos. Desde dezembro, mais de um milhão de idosos estão inscritos.

Para a oposição da Venezuela - país onde mais de 94% da receita de exportações vêm do petróleo - o preço do barril nos atuais US$ 117 pode ter custo eleitoral.

- Chávez controla a PDVSA (estatal petrolífera) e, com dinheiro excedente para gastar, espera-se que o governo anuncie novos programas sociais até as eleições, atraindo milhões de votos - avalia o cientista político José Carrasquero.

Criado em dezembro de 2011, a missão "Crianças da Venezuela" oferece o equivalente a US$ 100 mensais para cada menor de 17 anos pertencente a uma família pobre - benefício ampliado a grávidas que vivem na pobreza e deficientes físicos. O governo diz que, até o fim de 2012, terá gasto mais de US$ 2 bilhões nesses dois programas.

Após as enchentes de 2010, mais de 100 mil venezuelanos ficaram desabrigados - o déficit habitacional do país é de 2 milhões de casas, segundo especialistas. Chávez afirma que, só em 2011, 146 mil novas moradias foram construídas. Já a missão "Sabedoria e trabalho", também recém-criada, promete capacitar tecnicamente e depois oferecer mais de 420 mil empregos aos jovens, que podem ainda abastecer seus carros e motos a preços módicos, já que o combustível é subsidiado.

Enquanto isso, a oposição tenta apontar os defeitos e apresentar propostas alternativas ao aparato assistencialista chavista. O primeiro passo é questionar os números: sobre as casas, por exemplo, argumenta-se que a maioria delas recebeu apenas uma maquiagem, correndo o risco de desabar de novo. A campanha do candidato à Presidência pela oposição, Henrique Capriles, vem insistindo que é a educação o maior fator capaz de tirar os venezuelanos da pobreza. Capriles, no entanto, promete cuidar dos pobres. E já descartou aumentar o preço da gasolina.