Título: Segurança sob nova direção
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 10/09/2009, Política, p. 7

Famosa por atitudes firmes e conhecimento técnico, Marina Maggessi se torna a primeira mulher a comandar a Comissão de Combate ao Crime Organizado da Câmara

Nunca fiquei no papel de vítima. Se você der confiança ao preconceito, ele te engole. E, além disso, tenho uma língua pesada, não deixo barato¿ Marina Maggessi, deputada (PPS-RJ)

A experiência de 20 anos como policial no Rio de Janeiro em cargos de destaque, o conhecimento técnico da área e a postura veemente ao se expressar serão as armas utilizadas por Marina Maggessi (1)para conduzir os trabalhos da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara dos Deputados. Primeira mulher a se eleger presidente do colegiado ¿ historicamente integrado por homens ¿ e oitava a ocupar a chefia de uma comissão permanente em toda a história da Casa, Maggessi diz não temer hostilidade de nenhum colega. ¿Nunca fiquei no papel de vítima. Se você der confiança ao preconceito, ele te engole. E, além disso, tenho uma língua pesada, não deixo barato¿, brinca a deputada, ex-inspetora da Polícia Civil carioca.

Prova disso foi a crítica, desferida logo na reunião de posse de Marina, ontem, em relação aos episódios de violência registrados nos últimos dias na Bahia ¿ com postos policiais, carros oficiais, ônibus e prédios públicos queimados, e ataque a policiais militares. ¿Vamos enfrentar esse assunto e quero ver autoridade vir dizer que está tudo resolvido. Com o perdão da palavra, não somos babacas¿, destaca Maggessi. Segundo ela, sua atuação como policial se repetirá na condução da Comissão de Segurança Pública. ¿Sempre fui pelo lado da resolução de conflitos. Não dá para aguentar essa política do matar e prender, isso nunca deu certo. O Rio está aí, como exemplo. O que acontece é que os pobres foram levados para a margem da cidade e estourou a violência¿, afirma a deputada.

Uma atuação mais ligada aos direitos humanos sem perder de vista a responsabilização dos criminosos, segundo Marina, não será difícil. Embora a comissão de Segurança Pública seja formada basicamente por policiais militares e civis, ela enxerga nos colegas perfis muito avançados e desprovidos de conservadorismo. ¿Tem gente que nem sabe o que está fazendo ali, vem para as reuniões só para ser tropa de choque do governo. Mas, na maioria, temos pessoas compromissadas e com visões interessantes do que é segurança pública¿, ressalta.

Polêmicas

Mesmo para temas espinhosos na área da segurança, a deputada não tem papas na língua. Quanto à redução da maioridade penal, é terminantemente contra. ¿Não dá para você querer avaliar a idade mental de um menino da favela, drogado, sem escola. Não dá para olhar para ele e dizer: você tem 17 anos e vai para a cadeia! Não é como filho de bacana, bem estruturado¿, explica a deputada. Em outro assunto recheado de controvérsia, a visão da deputada é também polêmica. ¿Não defendo a descriminalização das drogas de forma alguma, nem para o usuário. Se hoje, sendo crime, ninguém vai preso, imagine se liberar geral. Quantas mães vão sofrer ainda mais?¿, questiona.

O episódio das escutas telefônicas em que Marina foi flagrada sugerindo ao policial civil Hélio Machado, que chegou a ser preso em 2006 por envolvimento com máquinas de caça-níquel, que desse um ¿tiro nos cornos¿ do delegado Alexandre Neto, está totalmente ¿superado¿, conforme a deputada. Na ocasião, Marina, que ainda não tinha assumido o cargo na Câmara, foi acusada de receber dinheiro do jogo do bicho durante a campanha. ¿Ficou provado que houve alterações naquele diálogo. Claro que, ao chegar à imprensa, sofri com aquilo, mas tinha certeza de que tudo ficaria esclarecido¿, diz ela.

1 - Extensa biografia Carioca, jornalista de formação, Marina Maggessi atuou como inspetora na Polícia Civil do Rio de Janeiro por mais de 18 anos, onde conseguiu conquistar o posto de chefe da Coordenadoria de Inteligência. A equipe que dirigiu foi responsável por prisões importantes, como a dos traficantes Elias Maluco, Marcinho VP e Uê.

OS NÚMEROS

20 anos - Tempo de experiência da parlamentar como policial no Rio de Janeiro

18 anos - Idade considerada ideal, por Maggessi, para que uma pessoa seja julgada como adulta

Áudio da entrevista com a deputada Marina Maggessi