Título: Campanha de Hugo Chávez começa sem ele
Autor: Lage, Janaina
Fonte: O Globo, 25/02/2012, O Mundo, p. 33

Equipe do presidente terá que montar candidatura sem grande deslocamento durante o período de tratamento

Juan Barreto/AFP

Antes de seguir viagem para Havana, onde será submetido a uma cirurgia para tratar uma lesão no mesmo local onde foi diagnosticado com câncer no ano passado, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aproveitou um evento com simpatizantes e membros do governo no teatro Teresa Carreño para anunciar seu comando de campanha. Denominada Batalha de Carabobo, a equipe será presidida pelo próprio Chávez, mas o chefe do comando será o prefeito do município de Libertador, Jorge Rodríguez. O grupo inclui diversos "escudeiros chavistas" do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), como o vice-presidente Elías Jaua e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.

Segundo especialistas, um dos principais desafios da equipe será montar uma campanha que não exija grandes deslocamentos do candidato e que possa enfrentar a estratégia do opositor, o governador de Miranda, Henrique Capriles, que prometeu visitar o país inteiro.

- Durante a convalescença, Chávez vai se apoiar sobre a plataforma do partido. A ideia é que os quadros médios do PSUV multipliquem sua presença por mil, para que possa ter bases fortes em todas as regiões - afirma o cientista político Nicmer Evans.

Chávez terá uma grande estrutura formada por sete comandos regionais, 24 estaduais, 333 municipais, 1.067 paroquiais e 11.038 bases de campanha.

Para a colunista Soledad Murillo Belloso, do jornal "El Universal", o partido não deve tomar nenhuma grande decisão na ausência de Chávez, mas deve fomentar o acompanhamento do estado de saúde do presidente pela população. Ontem, ele deixou o Palácio Miraflores rumo ao aeroporto em carro aberto seguido em caravana por simpatizantes durante o percurso de 25km e acompanhado de Rosines, uma de suas filhas. De outro lado, Soledad ressalta que o partido está ciente de que Capriles não deve mudar sua estratégia de concentrar a candidatura na gestão de Chávez, sem confrontos diretos com o presidente e sem dar maior destaque à enfermidade.

- O que eles vão discutir é como lidar com um candidato limitado fisicamente que enfrenta um competidor mais jovem, saudável e com muita vitalidade.

O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, negou que o país esteja diante de um "vazio de poder" diante da partida de Chávez, que mais uma vez se negou a delegar poder ao vice-presidente, Elías Jaua. Cabello acusou a Mesa de Unidade Democrática, e especificamente dois de seus integrantes, Pablo Medina e Hernán Escarrá, de tentarem criar disputas internas no PSUV. Os dois apresentaram no ano passado ao Tribunal Supremo de Justiça um recurso pedindo que uma junta médica avalie o estado de saúde de Chávez e determine se ele está em condições de governar. Eles pediram novamente que o tribunal se manifestasse sobre o caso.

Em pronunciamento em rede nacional ontem, Chávez disse que saía do país fortalecido com as manifestações de apoio e pronto para enfrentar a disputa eleitoral:

- Farei todo o esforço que tenha que fazer para conduzir vocês a uma nova vitória em 7 de outubro, ainda que seja nas piores condições.

Dilma deseja sorte e pronto restabelecimento

Simpatizantes de Chávez realizaram missas e manifestações de apoio ao presidente. Em suas últimas aparições, o presidente tem feito citações que vão de Jesus Cristo ao poeta Walt Whitman até o herói Simon Bolívar.

- Sonhei há algum tempo que Cristo veio até mim e disse "Chávez, levanta-te, não é hora de morrer, é hora de viver - disse, em uma alusão ao milagre de Lázaro na Bíblia, após lembrar que há mais chances do tumor ser maligno do que benigno.

Em uma conversa por telefone que durou cinco minutos, a presidente Dilma Rousseff desejou a Chávez "sorte e pronto restabelecimento". Ele já havia recebido votos de melhora de outros presidentes, como Evo Morales, da Bolívia, Cristina Kirchner, da Argentina, e Rafael Correa, do Equador, entre outros. Em Cuba, onde o venezuelano será operado, autoridades locais permaneceram em silêncio, evitando dar informações sobre a estadia.

Com agências internacionais e Luisa Damé