Título: BC intervém 2 vezes, mas dólar volta a cair
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 25/02/2012, Economia, p. 25

Moeda recua 0,23%, a R$ 1,707, e tem queda de 8,6% no ano. Em Wall Street, ações retomam patamar de 2008

O Banco Central (BC) voltou a promover ontem uma dupla intervenção no mercado de câmbio para impedir a desvalorização do dólar comercial, um dia após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmar que o país tem "um grande arsenal" para defender o real. A atuação da autoridade monetária apenas impediu ontem uma queda maior da moeda americana, que fechou o pregão cotada a R$ 1,707, uma baixa de 0,23%, e renovou seu menor preço no ano. Após uma semana movimentada, o dólar passou agora a acumular uma desvalorização de 8,67% no ano frente ao real, a maior entre 16 das principais moedas do mundo, superando o peso mexicano (-7,49%) e o euro (-3,72%), por exemplo.

A baixa da moeda acompanhou a altas da Bolsas de Valores. O índice S&P 500, que reúne 500 empresas negociadas nas Bolsas americanas, avançou 0,17% ontem, para 1.365 pontos. É o maior patamar desde 6 de junho de 2008 (1.360 pontos), antes da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. O índice subiu mais de 8% neste ano, num rali baseado numa sucessão de ganhos modestos.

Dólar turismo tem menor cotação do ano: R$ 1,82

No câmbio turismo, os brasileiros que pretendem viajar ao exterior encontravam ontem a moeda por, na média, R$ 1,82 nas casas de câmbio do Rio. Também neste mercado, é o menor valor da moeda neste ano. No início de janeiro, o dólar turismo era encontrado faixa de R$ 1,90 a R$ 1,99, segundo dados da consultoria CMA.

Segundo analistas, a enxurrada de dólares sobre o mercado brasileiro - principal razão da desvalorização da moeda - vai continuar nas próximas semanas. Eles afirmam que seria apenas uma questão de tempo para a moeda ser cotada abaixo de R$ 1,70 no mercado comercial, um piso informalmente simbólico para o governo e que tem provocado queixas de perda de competitividade nas exportações das indústrias brasileiras.

Na quinta-feira, por exemplo, o Bradesco concluiu uma captação de US$ 1,1 bilhão em títulos de 10 anos, numa oferta que teve procura sete vezes maior por investidores. Nos dois primeiros meses do ano, outras empresas também fizeram pesadas captações, como Brasil Telecom (US$ 1,5 bilhão), Santander Brasil (US$ 800 milhões) e Petrobras (US$ 7 bilhões).

Luis Otávio Leal, economista do banco ABC Brasil, explica que o apetite dos investimentos para aplicações no Brasil - mesmo com a crise europeia espreitando os mercados - tem relação com o excesso de oferta de dinheiro no mundo, efeito de juros baixos e injeção de liquidez pelos BCs.

- Estamos voltando para 2011, quando houve um grande debate sobre guerra cambial entre os país. Mas acho que o fluxo de recursos para o Brasil está diferente do que vimos no ano passado. Não existe a especulação cambial que estávamos vendo - afirma Leal.

Um dos alvos das medidas do governo brasileiro no ano passado foi o mercado futuro de câmbio. Naquele ano, os investidores estrangeiros chegaram a ficar vendidos (apostar na queda do dólar) em US$ 20 bilhões, um recorde. Isso influencia a cotação da moeda no mercado à vista. Neste ano, os investidores estrangeiros, no entanto, estão com apostas de US$ 2 bilhões contra a moeda, um décimo frente a 2011. Sem um movimento especulativo claro, os analistas acreditam que o governo pode ter menos espaço para agir.

- O que devemos ver é o BC enxugar a entrada de dinheiro e algumas medidas no mercado futuro - diz Ures Folchini, executivo do banco WestLB.

Bovespa sobe 0,19% com ajuda das ações Petrobras

No pregão de ontem, o BC realizou dois leilões de compra de dólares no mercado à vista no fim do dia e retirou cerca de US$ 200 milhões de circulação. Desde de 3 de fevereiro, foram nove intervenções para conter a queda da moeda. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou ontem em alta de 0,19%, aos 65.942 pontos pelo Ibovespa, o seu principal índice. O destaque ficou para ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras (2,34%, a R$ 24,48). Em Wall Street, o Dow Jones ficou praticamente estável, em queda de 0,01%. O Nasdaq subiu 0,23%.