Título: Em meio ao caos na Grécia, a busca do lucro
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Globo, 26/02/2012, Economia, p. 34

Italianos investem em infraestrutura e grupos do mercado financeiro procuram oportunidades na economia em depressão

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TURISTAS CAMINHAM diante do Templo de Zeus, em Atenas: setor pode crescer mais e auxiliar recuperação do país, segundo especialistas

Yannis Behrakis/Reuters

TEL AVIV. Há duas semanas, um grupo de profissionais gregos e estrangeiros se reuniu num hotel no Centro de Atenas, a poucos metros da Praça Syntagma, palco dos principais confrontos entre polícia e manifestantes contrários às medidas de austeridade econômica aprovadas pelo Parlamento do primeiro-ministro Lucas Papademos. O tom do encontro, no entanto, era diametralmente oposto ao clima lúgubre que tomou conta dos gregos em meio à pior crise sócio-econômica desde a Segunda Guerra Mundial. Os participantes assistiam à 1 Conferência de Negócios de Luxo da Grécia, expondo detalhes sobre o mercado de hotéis, carros, cruzeiros marítimos e joias a preços que a grande maioria dos cidadãos do país nem pode sonhar em pagar. Segundo os participantes, o momento recessivo na Grécia pode ser de oportunidade para investidores visionários.

- O show deve continuar - disse no evento George Drakopoulos, diretor da Associação de Empresas Gregas de Turismo. - Um comportamento ostentoso demais é considerado inapropriado em períodos de crise.

Ao que tudo indica, investidores italianos já identificaram o potencial da economia grega e não pretendem abandonar o barco por causa da crise. Um dos projetos em andamento é a construção do metrô da cidade portuária de Tessalônica, no valor de 798 milhões, tocado pela gigante italiana Finmeccanica em conjunto com a empresa grega AEGEK. O projeto criou nada menos do que mil empregos em Tessalônica.

- Estamos apoiando o governo grego no período difícil. Quando o metrô ficar pronto, esperamos encontrar outras oportunidades - disse o engenheiro italiano Antonio Liguori ao jornal grego "Kathimerini".

Obras, azeite e finanças podem atrair negócios

Outra empresa italiana que aumentou a atuação na Grécia é a Pieralisi, um dos maiores produtores de equipamentos para extração de azeite de oliva, que desembolsou cerca de 30 milhões no país em três anos. Investidores do mercado financeiro também prometem direcionar recursos para a Grécia.

- Acreditamos que há chance de lucrar e que a Europa não vai deixar a Grécia fracassar - diz o consultor italiano Alessandro Proto, que representa um grupo interessado em investir 150 milhões em títulos gregos de curto prazo e em projetos de infraestrutura.

O potencial de investimento em tempos cinzentos foi tema de outro evento, na semana passada, em Atenas: a 1 Semana do Empreendedor. É ideia, segundo Dimitri Tsigos, fundador e presidente da União Grega de Novos Negócios, foi "enviar uma mensagem forte de otimismo" aos empreendedores de Atenas, que chamou de "capital criativa de alcance global":

- A Grécia vai não apenas superar a crise, como tem todas as condições para liderar novamente, desenvolvendo iniciativas inovadoras e aproveitando seu capital humano - anunciou.

Iniciativas e discursos como esses parecem incongruentes num país onde, estima-se, mais de 61 mil pequenas e médias empresas vão fechar as portas até o fim de 2012, expelindo para as estatísticas do desemprego 240 mil pessoas. Isso depois dos 150 mil postos de trabalho que fecharam, no ano passado. Mas há quem acredite que é justamente neste cenário que as melhores opções de investimento podem estar escondidas. É o caso do especialista em mercado Giannis Papadopoulos, CEO da Attica Ventures. Segundo ele, é hora de arriscar.

- Uma economia em recessão é sempre uma boa oportunidade para investimentos, porque os preços e as condições são mais flexíveis. Investidores devem agir nesse tipo de período, porque, se o clima mudar, mudará rapidamente, então não haverá muito tempo para que os investidores entrem no país - afirma Papadopoulos.

Um dos mercados mais promissores, segundo ele, é o da energia renovável. Até porque o governo grego está oferecendo incentivos nesse setor. Uma comissão governamental deu luz verde para facilitar a entrada de investidores em diversos projetos de energia alternativa no valor de 1,13 bilhão. Atualmente, a Grécia importa mais de 70% de sua energia, utilizando principalmente carvão fóssil. Segundo o Ministério do Desenvolvimento grego, projetos de energia eólica e solar poderiam atrair mais de 5 bilhões na próxima década.

Para a advogada israelense Gila Golan-Lieber, presidente da Câmara de Comércio Israel-Grécia, sairá ganhando quem participar de licitações públicas em meio à onda local de privatizações em setores como energia e água. Ela cita inovações no campo da dessalinização e do transporte de água nas ilhas gregas, onde há menos água potável. Segundo a advogada, a Grécia está diminuindo a burocracia e oferecendo facilidades para estrangeiros. Mas, segundo ela, é importante chegar sem a expectativa de encontrar parceiros locais ou de conseguir empréstimos, e com a visão de que trata-se de investimento de longo prazo.

Grupos de trabalho vão promover o turismo

Outro setor que pode interessar é, obviamente, o do turismo, um dos pilares da economia grega, responsável por nada menos de 18% do PIB do país. Há três semanas, o ministro do turismo Giorgos Nikitiadis levou justamente essa mensagem para a Alemanha ao realizar o Fórum Helênico-Germânico no Bundestag, em Berlim. Tentou, como pôde, vender a ideia de que empresas alemães só vão ganhar ao apostar no potencial do turismo grego, com a construção de resorts e de infraestrutura. Ao fim do encontro, foram criados dois grupos de trabalho, que prometem focar na promoção do setor turístico e de novos destinos na Grécia.

O consultor Giannis Papadopulos acredita que o setor agrícola também pode surpreender. Ele cita o investimento que sua empresa fez num projeto de médio porte: o da goma de mascar "Masticha", produzida da resina de árvores muito comuns na Ilha de Chios, no Mar Egeu. A produção do chiclete 100% "Made in Greece" cresceu 20% no ano passado e o produto está sendo exportado mundialmente.

(*) Especial para O GLOBO