Título: Cabo Frio mostra que aeroporto é negócio
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Fonte: O Globo, 26/02/2012, Opinião, p. 6
Não é possível compará-lo aos grandes aeroportos comerciais do país, pois suas características são bem diferentes. No entanto, como mostrou O GLOBO na edição do último domingo, o aeroporto de Cabo Frio é um bom exemplo de como uma administração ágil é capaz de render frutos para o setor.
O aeroporto passou por uma série de investimentos que o prepararam tanto para receber aviões de passageiros como vultosos cargueiros. O tráfego de passageiros aumenta nos meses de verão, quando a região de Cabo Frio e Búzios recebe muitos turistas da América do Sul (Argentina e Chile), de outras regiões do Brasil e do próprio Rio de Janeiro. Além de voos charters, fretados, duas companhias aéreas nacionais mantêm linhas regulares para lá durante esses meses. Mas a tendência é que o movimento de passageiros se estenda pelas demais estações do ano, pois o aeroporto tem sido cada vez mais usado como base de helicópteros das empresas que possuem plataformas de exploração e produção de petróleo no Sul da Bacia de Campos.
Semanalmente há um voo regular de avião cargueiro entre a Flórida e Cabo Frio, geralmente transportando peças e equipamentos para a indústria do petróleo. Com instalações adequadas, o desembaraço das mercadorias vem levando menos tempo do que em outros aeroportos ou portos. Desse modo, o aeroporto de Cabo Frio já é um entreposto aduaneiro procurado por outras cargas que não se destinam necessariamente ao setor de petróleo.
Esse movimento atraiu um dos principais grupos de investidores da área de logística, concessionário de terminais de contêineres no Rio e em Santos, que assumiu o controle acionário da empresa que opera o aeroporto de Cabo Frio. O negócio se tornou lucrativo e tem como forte perspectiva um rápido crescimento com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Por ser internacional, Cabo Frio pode ser a porta de entrada no país de centenas de jatos executivos que chegarem do exterior, seguindo de lá para outros destinos (no caso do Rio, será mais fácil utilizá-lo como pátio de estacionamento das aeronaves, em vez do Galeão ou do Santos Dumont, por exemplo).
Junto ao aeroporto de Cabo Frio também está em andamento o projeto de um polo empresarial, para companhias de logística ou fabricantes de equipamentos com conteúdo tecnológico.
Essa multiplicação de atividades faz com que a receita do concessionário cresça bem acima da média do setor aeroportuário. E dá uma ideia de como poderão ser bem-sucedidos aqueles que vão assumir a administração dos grandes aeroportos recentemente licitados (Guarulhos, Campinas e Brasília), além de servir de estímulo para os que vão se habilitar aos futuros leilões.
Por enquanto, o governo federal só tem cogitado abrir para a concessão grandes aeroportos. Mas a experiência de Cabo Frio é animadora e deveria levar as autoridades a repensar o modelo, passando a incluir no rol das concessões aeroportos de pequeno e médio portes que tenham considerável potencial de expansão, bastando para tal uma administração mais ágil do que a conduzida pela estatal Infraero. Não pode é deixar de aproveitar o interesse de capitais privados e retardar as próximas licitações, como a do Galeão, de alta prioridade.